O diretor-geral da PF (Polícia Federal), Andrei Rodrigues, defendeu nesta terça-feira (18), durante a primeira oitiva da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Crime Organizado no Senado um reforço estrutural urgente para que o país consiga enfrentar facções criminosas e milícias. Ele pediu que o Congresso aprove um aumento de 38% no orçamento da PF para 2025, elevando os recursos de R$ 1,8 bilhão para R$ 2,5 bilhões, e sugeriu dobrar o efetivo da corporação, hoje considerado insuficiente para as atribuições da instituição.
O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, solicitou ao Congresso um aumento de 38% no orçamento da instituição para 2025, elevando os recursos de R$ 1,8 bilhão para R$ 2,5 bilhões. Durante depoimento na CPI do Crime Organizado no Senado, Rodrigues também defendeu a necessidade de dobrar o efetivo atual da corporação.Com 13 mil policiais e 2 mil servidores administrativos, o contingente é considerado insuficiente para atender todas as atribuições da PF, que incluem investigações criminais, controle de armas e fiscalização de fronteiras. Rodrigues destacou ainda o crescimento nas apreensões da instituição, que passaram de R$ 1 bilhão em 2022 para R$ 6,4 bilhões em 2024.
Segundo Rodrigues, o incremento é necessário para expandir as FICCOs (Forças Integradas de Combate ao Crime Organizado), forças-tarefa integradas com polícias estaduais e ampliar a capacidade de combate ao crime organizado, inclusive com reforço nas fronteiras.
Uma pesquisa realizada pela Justiça Federal em Mato Grosso do Sul revelou que apenas 13% do contingente de policiais do Estado atendem a região de fronteira com Paraguai e Bolívia. A pesquisa apontou ainda que, pelo menos, 29% do efetivo atual da Policia Federal deveriam estar concentrados na fronteira.
A CPI foi instalada após a megaoperação no Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho, que resultou na morte de 121 pessoas e reacendeu o debate sobre segurança pública.
Rodrigues destacou que o quadro atual da PF, com 13 mil policiais e 2 mil servidores administrativos, é insuficiente diante das demandas. Mais 2 mil policiais aprovados em concurso devem iniciar a formação em 2025, mas, para o diretor, o número ainda está longe do ideal. Ele argumenta que seria necessário dobrar o efetivo para que a instituição pudesse atender com maior eficiência todas as suas atribuições, que incluem investigações criminais, controle de armas, imigração, segurança bancária e fiscalização de fronteiras, portos e aeroportos.
Apenas no último ano, foram registrados 40 milhões de movimentos migratórios sob supervisão da PF.
Durante a oitiva, o diretor-geral também criticou o substitutivo do PL (Projeto de Lei) Antifacção em tramitação na Câmara dos Deputados. Segundo ele, o texto retira recursos de fundos federais essenciais para a segurança pública, como o Fundo Nacional de Segurança Pública, o que enfraqueceria o financiamento da PF. Rodrigues alertou ainda que a redação atual do projeto pode gerar conflitos processuais e nulidades, criando obstáculos para o andamento de ações penais contra facções criminosas.
O chefe da PF defendeu que a descapitalização das facções é a forma mais eficaz de enfraquecê-las. Ele informou que as apreensões da instituição cresceram significativamente, passando de R$ 1 bilhão em 2022 para R$ 6,4 bilhões em 2024, com previsão de alcançar R$ 9 bilhões em 2025. Os valores correspondem a bens realmente apreendidos, como imóveis, veículos, aeronaves e embarcações, e não apenas a bloqueios financeiros sem lastro real.
Rodrigues também falou sobre o avanço da economia digital e como o uso de criptomoedas, fintechs e outras tecnologias facilita a lavagem de dinheiro por grupos criminosos. Para ele, o Estado ainda opera de forma analógica enquanto o crime já migrou para o ambiente digital, o que exige um salto tecnológico das instituições de segurança.
Em outro momento da sessão, o diretor-geral afirmou que não há indícios concretos de ligação entre facções brasileiras e organizações classificadas como terroristas por alguns países. A declaração foi dada em resposta ao senador Hamilton Mourão, que mencionou a possível presença de grupos do tipo na região da Tríplice Fronteira. Rodrigues afirmou que não há, nas investigações, elementos que confirmem esse cenário e que muitas vezes esse tipo de alegação é usada como ferramenta de pressão geopolítica.
O debate ocorre em meio a movimentos internacionais, como a oferta dos Estados Unidos de US$ 10 milhões por informações que ajudem a interromper mecanismos financeiros do Hezbollah na fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai. O Paraguai, aliado dos EUA e de Israel, já anunciou que abrigará um escritório do FBI para atuar na região. Embora seja considerado terrorista por países como Estados Unidos, Israel e Reino Unido, o Hezbollah não recebe a mesma classificação da ONU e também atua como partido político no Líbano.


