Os lares negros são responsáveis por mais da metade do gasto dos brasileiros (55%) com bens de consumo de giro rápido – categoria onde estão incluídos alimentos perecíveis, bebidas, produtos de higiene e limpeza e medicamentos de uso. Isso representa nada menos do que R$ 625 bilhões por ano, segundo a 6ª edição da pesquisa Afroconsumo 2025, da NielsenIQ, a qual o blog teve acesso em primeira mão. A população negra, que representa a maioria no país e 57,5% do painel de lares da pesquisa, ainda enfrenta barreiras significativas, desde desigualdade salarial até baixa presença em cargos de liderança, onde apenas cerca de 33% ocupam posições gerenciais, e essa falta de equidade também se reflete no consumo Beatriz Marques, executiva de Contas Sênior da NielsenIQ.
– Apesar de os lares negros responderem por mais da metade dos gastos totais e apresentarem desempenho superior em diversas cestas, como limpeza, bebidas e higiene & beleza, a oferta de produtos voltados para suas necessidades específicas ainda é limitada. No segmento de cuidados pessoais, foco do estudo Afroconsumo, por exemplo, categorias como shampoo e pós-shampoo são as que mais se destacam em importância para produtos especializados, mas continuam com baixa representatividade – ressalta
Entre as família ouvidas pela pesquisa, 51% se enquadram em faixa de renda média e 23% baixa. Os dados revelaram que 20% dos responsáveis pelas compras têm ensino fundamental incompleto (48% a mais que os não-negros), enquanto 24% dos que compram são autônomos, percentual também superior aos demais lares.
O levantamento mostra que nenhum orçamento familiar está imune a cortes diante da pressão dos preços das cestas de alimentos, como testemunhamos nos primeiros meses deste ano. A pesquisa mostra, no entanto, que nos lares negros o impacto em categorias como higiene & beleza é menor: uma retração de 7,2% em volume de vendas em relação ao ano passado, enquanto lares não negros a queda foi de 15,2%.
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Os entrevistados pela pesquisa reconhecem que as empresas começam a entender o potencial desse mercado, mas ainda insuficiente. À pesquisa, 60% dos negros responderam que compram produtos especializados, mas que existe uma dificuldade significativa em se encontrar esse tipo de mercadoria, sendo que 43,9% disseram que os encontram somente às vezes. A executiva da NielsenIQ, diz que há um movimento crescente de aumento de representatividade e acrescenta que essa é uma mudança estratégica para as empresas:
– De acordo com os respondentes da pesquisa, há um aumento na representatividade negra em relação a dois anos atrás, refletido em ações publicitárias, desenvolvimento de produtos, vagas afirmativas e posicionamento das marcas. Esse avanço é relevante porque não se trata apenas de inclusão social: investir em representatividade impacta diretamente a percepção e a consideração das marcas, tanto entre consumidores negros quanto no público geral. É um passo estratégico que fortalece a conexão com um mercado diverso e economicamente significativo.
Outra ponto interessante da pesquisa foi a comprovação de que as marcas que se dedicam às causas raciais são as primeiras no ranking Top of Mind na compra de produtos especializados, marcas essas que apresentam maior crescimento e ganham participação no mercado frente às demais. Não à toa, 41,4% das pessoas responderam que gastariam mais com uma marca especializada para pessoas negras, desde que o preço não fosse muito maior.
Idealizado e executado pelo Origens, o grupo de trabalho pela equidade racial na NIQ, a pesquisa tem como objetivo contribuir para a inclusão de pessoas negras na publicidade e no consumo, sendo toda a receita arrecadada com levantamento destinada a ONGs que proporcionam oportunidades de desenvolvimento a pessoas negras. Na edição passada, foram arrecadados mais de R$70 mil que contribuíram com duas diferentes ONGs, Casa da Vila e Fundo Baobá.

