A Argentina é governada pela direita. O Paraguai é governado pela direita. A Bolívia é governada pela direita. O Peru é governado pela direita. O Equador é governado pela direita. Em breve, o Chile provavelmente será governado pela direita. Mais do isso, por uma ultradireita e não pela centro-direita que esteve no poder em outros momentos em Santiago. O Brasil de Lula estará, portanto, circundado por governos direitistas hostis a alguns temas da agenda do brasileiro. As únicas exceções seriam o Uruguai e a Colômbia, por enquanto.
José Antonio Kast, um ultraconservador admirador do ditador Augusto Pinochet, deve vencer com folga o segundo turno das eleições chilenas, embora tenha ficado na vice-liderança no primeiro turno, atrás da candidata governista Jeannette Jara, do Partido Comunista, mas representando uma aliança de esquerda ligada ao presidente Gabriel Boric.
Apesar de terminar líder com 26% dos votos, ela deve ficar isolada no segundo turno. Já Kast, com 24%, tende a contar com o apoio de uma série de candidatos da direita. Somados, todos os direitistas chegam a 70% dos votos. É quase impossível a esquerdista conseguir reverter esse cenário.
O Chile tem uma tendência nas últimas duas décadas de pêndulo entre esquerda e direita. Sem reeleição seguida, o país foi governado por uma aliança de centro-esquerda até 2010, pela centro-direita entre 2010-2014 com Sebastian Piñera, de novo pela centro-esquerda entre 2014 e 2018 com Michelle Bachelet, retornou com Piñera entre 2018-2022 e mais uma vez com a esquerda de Gabriel Boric até agora.
Kast, no entanto, não é um conservador tradicional e pragmático como o ex-presidente Piñera, morto em acidente no ano passado. É de uma linhagem mais próxima da extrema direita, com uma série de posições radicais e uma idolatria por Pinochet. A dúvida é se adotará uma postura mais extremistas como o húngaro Viktor Orbán, ou mais pragmática, como a Italiana Giorgia Meloni.
— Acho que não será como o Piñera (que adotou uma agenda quase de centro-esquerda depois do eclosão social em 2019), mas está se posicionando menos no extremo do que (Javier) Milei e (Jair) Bolsonaro. De personalidade, também é muito diferente e o contexto institucional no Chile é bem peculiar. Avalio que será mais como a Meloni — explicou jornalista Roberto Simon, autor do premiado livro “O Brasil contra a democracia – A ditadura, o golpe no Chile e a Guerra Fria na América do Sul”.

