Santos celebra 90 anos de seu primeiro título do Paulista – 16/11/2025 – Esporte

por Assessoria de Imprensa


A história foi contada inicialmente por Mário Pereira, chamado de Perigo Loiro, que em 1935 era um jovem meia-direita do Santos. Em caso de derrota para o Corinthians naquele 17 de novembro, há 90 anos, os torcedores visitantes estavam prontos para incendiar as arquibancadas de madeira do Alfredo Schürig, estádio do rival no Parque São Jorge, em São Paulo.

Em texto preparado para celebrar as nove décadas da primeira conquista do clube praiano no Campeonato Paulista, o historiador Guilherme Guarche observou que “o então presidente alvinegro, Carlos de Barros, tinha dado uma ordem aos estivadores do porto de Santos, que viajaram levando um galão contendo gasolina”.

Eles embarcaram rumo a São Paulo em um trem da São Paulo Railway, com vagões alugados para a torcida. “Graças a Deus, não foi preciso incendiar o estádio, pois o onze praiano venceu e conquistou o tão almejado título”, relatou Guarche, membro do Centro de Memória do Santos Futebol Clube.

Foi o primeiro título paulista de um time não sediado na cidade de São Paulo. Na LPF (Liga Paulista de Futebol) de 1935, disputada em sistema de pontos corridos, o Santos assegurou o título na penúltima rodada, fazendo 2 a 0 naquele que se tornaria o seu maior rival.

A equipe só perdeu um jogo em 12 rodadas –justamente para o Corinthians, no primeiro turno. O troféu parecia encaminhado antes do duelo no Parque São Jorge, mas havia o trauma de seguidos vice-campeonatos no fim da década anterior e a sensação de que as agremiações da capital eram beneficiadas.

Existia uma mágoa bem específica, referente ao campeonato estadual de 1927, organizado pela APEA (Associação Paulista de Esportes Atléticos). A formação praiana teve uma boa campanha, com um ataque potente que marcou 100 gols em 16 partidas, porém uma contestada derrota para o Palestra Itália, atual Palmeiras, custou a taça.

Por isso, oito anos depois, como observou Raul Estevan, “não seriam toleradas injustiças”. Em outro texto oficial do Centro de Memória alvinegro, ele apontou que o presidente Carlos de Barros estava “farto das inúmeras falcatruas da arbitragem paulista” e que, “caso o clube fosse novamente prejudicado, os galões de gasolina […] teriam sua utilidade”.

“Pelo bem de todos, não foi necessário, e o time santista se garantiu na bola”, escreveu Estevan.

O Santos teve mesmo superioridade sobre o Corinthians, que vivia um período problemático, em enorme dificuldade para adaptar-se à era do profissionalismo do futebol brasileiro, inaugurada em 1933. Raul abriu o placar aos 36 minutos do primeiro tempo, e Araken Patusca, um dos maiores ídolos da história do clube, fechou a contagem, aos 27 do segundo.

“Eu ia levantar a bola e vi o Araken. Mandei para ele, que chutou forte. O José [goleiro do Corinthians] nem conseguiu reagir”, recordou Mário Pereira, em 2007, aos 93 anos, em entrevista à Folha. “O time deles era muito bom, com Teleco e Carlito, mas o nosso não ficava atrás. A gente tinha o Araken”, vibrou o Perigo Loiro.

Os campeões foram recebidos com festa em Santos. Não havia rivais locais com o tamanho do alvinegro, e o triunfo foi tratado como uma glória da cidade, que furava o domínio paulistano do Campeonato Paulista.

“O feito brilhante do Santos, no campeonato da Liga Paulista, este anno, encheu de justo contentamento a população esportiva da cidade. Nunca se constataram no terreno do esporte tantas e tão vivas demonstrações de enthusiasmo. Logo que os radios annunciaram a victoria final, as ruas começaram a movimentar-se, como se qualquer coisa de anormal e estranho houvesse acontecido”, relatou A Tribuna.

“Innenarravel o que se passou quando o comboio que conduzia o Santos deu entrada na ‘gare’. Os jogadores campeões foram como que arrancados dos carros e trazidos para a rua, aos hombros dos aficionados. Flôres cobriam os defensores do Santos. A satisfação era indisfarçavel. Abraços e mais abraços. Vivas e hurras. Contentamento geral. As bandas de musica executaram as primeiras marchas e ahi o enthusiasmo attingiu o auge. Espectaculo indescriptivel”, acrescentou o jornal santista.

O Santos já tinha títulos no litoral e triunfos no Torneio Início –estadual, mas de importância diminuta. Foi há 90 anos que o clube inaugurou sua galeria de grandes conquistas, que inclui três títulos continentais.

O time do lendário técnico Virgílio Pinto de Oliveira, o Bilú, deu a primeira glória de maior vulto ao que seria o “glorioso alvinegro praiano”. Campeão absoluto naquele ano. E responsável por evitar um incêndio na São Paulo de 1935 –ainda que o incêndio, pelo que consta nas fontes oficiais do clube, fosse um plano de seu próprio presidente.



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