O Terminal Rodoviário Roberto Silveira, no Centro, pode entrar na lista de imóveis públicos que o governo estadual pretende leiloar para reduzir parte da dívida com a União. A inclusão foi proposta através de emenda apresentada pelo deputado estadual Alexandre Knoploch (PL) durante sessão plenária da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), realizada na última quarta-feira.
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O local, que nos últimos anos se transformou em sinônimo de abandono e insegurança para quem precisa utilizar o espaço diariamente, é mais um ponto da cidade que entra na lista dos bens alienáveis.
Em setembro, O GLOBO-Niterói visitou o terminal após receber relatos de usuários falando sobre a sensação de medo constante ao circular pelo lugar, sobretudo no início da manhã e no fim da noite, quando a movimentação é menor e a ausência de agentes de segurança se torna mais evidente. Na ocasião, foi possível constatar a falta de vigilância, a presença de pessoas em situação de rua dentro das áreas de embarque e o funcionamento precário de serviços no local. O terminal é administrado pela Companhia de Desenvolvimento Rodoviário e Terminais do Estado, a Coderte.
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— Dá medo. Principalmente quando está muito cedo ou muito vazio. Você diz que não vai dar dinheiro, e eles voltam a abordar. Da última vez que voltei de uma viagem, num domingo à tarde, não tinha ninguém na rodoviária. Nenhum segurança. Fiquei muito nervosa até chegar o carro de aplicativo que pedi. Havia homens altos, nitidamente usuários de drogas, machucados e descalços, arrastando cobertas e falando coisas sem sentido. Uma moça que estava vendendo balas disse que já viu um deles batendo em pessoas que não deram dinheiro — relatou uma usuária.
Caio Martins fora da lista
A emenda de Knoploch amplia consideravelmente o projeto de lei complementar 41/2025, que inicialmente previa a venda de 61 imóveis. Além da rodoviária niteroiense, foram incluídos na lista o Estádio Nilton Santos (Engenhão), a Rodoviária Novo Rio, o prédio da Central do Brasil, o Terminal Rodoviário Américo Fontenelle e os terminais de Nova Friburgo e Nova Iguaçu.
Esse é o mesmo projeto que colocou o Complexo do Caio Martins, em Icaraí,na lista de bens alienáveis pelo estado. Após negociação envolvendo deputados e vereadores da cidade, o imóvel foi retirado da lista. O acordo foi selado após a aprovação, pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Alerj, em reunião realizada no fim do mês passado. No complexo será criado pela prefeitura um grande reservatório subterrâneo, ou “piscinão”, para conter os alagamentos que atingem o entorno do estádio.
Segundo estimativas do deputado, os 61 imóveis originalmente listados poderiam render cerca de R$ 5 bilhões aos cofres estaduais. Com os seis novos imóveis incluídos por sua emenda, a arrecadação pode chegar a R$ 6,5 bilhões. O projeto de lei, que é uma mensagem do governador Cláudio Castro (PL), tem como objetivo autorizar o estado a vender imóveis públicos para quitar dívidas com a União. O texto original foi protocolado em agosto e passou por análise de uma comissão técnica que vistoriou as propriedades nos últimos meses.
O líder do governo na Alerj justificou a inclusão de grandes equipamentos alegando os altos custos de manutenção. Segundo ele, o estado gasta cerca de R$ 1 milhão por partida realizada no Maracanã, reforçando o argumento de que a alienação de imóveis poderia aliviar as contas públicas. Durante a sessão, o deputado Knoploch, que coordena o grupo técnico do projeto e é relator na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), defendeu a ampliação da lista de bens.
— A função do estado é segurança, saúde, educação e fiscalização. Não há lógica o governo ter tantos imóveis que poderiam estar sendo administrados pela iniciativa privada — declarou.
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O Terminal Roberto Silveira foi construído em 1955 e, a partir da década de 1990, passou a ser administrado pelo Consórcio Novo Rio. O local é considerado um marco histórico da cidade e abriga um painel do renomado paisagista Burle Marx em uma das pilastras do setor de embarque. A obra foi restaurada e posteriormente tombada pelo Patrimônio Histórico do Rio de Janeiro.
O projeto ainda poderá sofrer alterações significativas. Todas as emendas apresentadas serão analisadas pela CCJ antes de o texto retornar ao plenário para votação. Além da inclusão de novos imóveis, algumas propostas defendem a exclusão de determinadas propriedades.

