Após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmar que não vê espaço para novas reduções de tarifas de importação além das definidas no decreto publicado na noite de sexta-feira, o vice-presidente e ministro de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, disse neste sábado que o governo brasileiro seguirá buscando novos cortes e que há distorção a corrigir, enquanto setores econômicos, como a cafeicultura, seguem apreensivos com o tarifaço.
O decreto de sexta-feira reduziu as tarifas de quase 200 produtos agrícolas, mas manteve a sobretaxa adicional de 40% imposta aos bens exportados do Brasil, em vigor desde agosto. Em entrevista em Brasília, Alckmin classificou as reduções como “positivas”, mas não deu as negociações com os americanos por encerradas.
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— Foi positivo e vamos continuar trabalhando — disse o vice-presidente, no Palácio do Planalto, citando o encontro mês passado entre Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. — Há uma distorção que precisa ser corrigida. Todo mundo teve 10% a menos, só que, no caso do Brasil, tinha 50% e ficou com 40%, que é muito alto (no café). No caso do Vietnã reduziu 20%, era 20% e foi para zero.
No decreto, o governo americano eliminou as chamadas “tarifas recíprocas”, introduzidas em abril sobre todos os países, para diversos produtos agrícolas que não são produzidos nos EUA, como carne bovina, tomate, café, banana e açaí.
A medida foi vista como uma tentativa de aliviar os preços para o consumidor americano, numa reação da Casa Branca à derrota do Partido Republicano em importantes eleições locais, como a da Prefeitura de Nova York, do início deste mês.
Em 12 meses, os preços médios do café torrado e de carne bovina acumulam, respectivamente, altas de 18,9% e 14,7% até setembro, segundo o CPI, um dos principais índices de preços ao consumidor dos EUA, calculado pelo Escritório de Estatísticas do Trabalho (BLS, na sigla em inglês).
Na noite de sexta, Trump deu os ajustes por encerrados.
— Não acho que será necessário (novas reduções em tarifas). Tivemos apenas um pequeno retrocesso em alguns alimentos, como o café, por exemplo, que tiveram preços um pouco mais altos. Agora, eles vão ficar mais baixos em um período muito curto — afirmou Trump após a publicação do decreto, ao ser questionado por um jornalista a bordo do Air Force One, a aeronave presidencial, num voo entre Washington e a Flórida, onde o presidente americano passa este fim de semana.
No caso do Brasil, setores que têm nos EUA um importante destino de exportações reagiram com cautela à decisão de sexta-feira. As primeiras impressões foram de dúvida em relação à extensão da redução para o Brasil. Num segundo momento, as interpretações foram convergindo no sentido de entender que os 40% foram mantidos.
Situação piorou após mudança de tarifa, dizem produtores de café
No caso do café, o quadro pode ter ficado até pior. Isso porque a eliminação das “tarifas recíprocas” sobre o produto para todos os países deixará mais baratas as exportações de outros importantes fornecedores para o mercado americano, como o Vietnã. Enquanto isso, o café produzido aqui, que era taxado em 50%, agora terá alíquota de 40%.
— Piorou a situação para nós, pensando em competitividade — afirmou Marcos Matos, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café (Cecafé). — Todos os nossos concorrentes ficaram zerados, o que coloca a gente numa situação muito difícil.
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Para o representante dos exportadores de café, a decisão do governo americano pode significar uma pressão para que o governo brasileiro siga em negociações. Matos cobrou mais esforço nas negociações:
— A nossa intenção é que o Brasil intensifique tratativas, é preciso ser mais proativo. É ver o que é mais factível e iniciar negociação de isenção de produtos mais importantes, e o café está entre os primeiros.
A Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) afirmou, em nota, que a manutenção da alíquota de 40% “amplia as distorções no comércio e tende a intensificar, no curto prazo, a queda nas exportações de cafés especiais aos EUA”. Segundo a entidade, os embarques de cafés especiais tiveram redução de 55% entre agosto e outubro na comparação com o mesmo trimestre móvel de 2024.
Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) apontam que os EUA são o destino de 16% de todas as exportações do grão produzido no Brasil, que, por sua vez, é o maior exportador do mundo. De acordo com o Cecafé, entre agosto e o fim de outubro, houve uma queda de 51,5% na exportação do café para os EUA, na comparação com igual período de 2024.
CNI: 11% das exportações
Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), as mudanças de sexta-feira atingem 11% das exportações brasileiras para os EUA, um total de US$ 4,6 bilhões. A questão é que, com os 40% adicionais mantidos, a diferença para a competitividade dessas exportações fará pouca diferença. Para a CNI, as negociações entre Brasília e Washington seguem urgentes.
Em comunicado, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, afirmou que “é necessário avançar mais para remover todas as barreiras adicionais”.
A Abrafrutas, que representa os fruticultores nacionais, destacou que a uva, segunda na pauta de exportações de frutas para os EUA, ficou de fora do decreto de sexta-feira.
(*Com agências internacionais)

