Belém — A diretora-executiva da Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas, Ana Toni, assegurou que as manifestações de grupos indígenas na COP30 fazem parte do ambiente democrático e não comprometem as negociações. O protesto dos mundurukus do Baixo Tapajós, ontem, e de outras nações de povos originários, ao longo da semana, levaram ao reforço da segurança e provocaram uma comunicação formal da ONU, que solicitou esclarecimentos ao governo brasileiro sobre as medidas tomadas junto aos manifestantes.
Ana Toni fez questão de frisar, em coletiva, que “estamos ouvindo a voz deles e o Brasil, felizmente, tem uma democracia muito forte, na qual as pessoas podem protestar nas diferentes formas em que estão dialogando”. Ela observou que outras nações indígenas devem realizar protestos ao longo do evento. Questionada também sobre a carta da ONU, ela desconversou afirmando que há “uma comunicação muito fluida de cartas indo e voltando com a ONU sobre questões e desafios”.
Os protestos dos indígenas provocaram danos pontuais na área externa e deixaram dois seguranças com ferimentos leves. Para Ana Toni, a presença das comunidades amazônicas no ambiente da COP reflete o caráter do encontro e a necessidade de incorporar as demandas dos nativos às discussões.
Por volta das 5h, cerca de 100 representantes da etnia mundukuru realizaram um protesto pela revogação do Decreto 12.600/25 — que prevê a privatização de empreendimentos públicos federais do setor hidroviário, incluindo no Rio Tapajós — e contra a construção da Ferrogrão — ferrovia que ligará o Mato Grosso ao Pará, para escoamento de produção agrícola. Para os povos originários, ambos os empreendimentos impactarão o modo de vida dos indígenas e podem levar à especulação das terras dos nativos.
O impasse durou cerca de quatro horas. Os participantes da COP30 foram obrigados a entrar no pavilhão dos debates por uma porta lateral e a desocupação do acesso principal ocorreu depois de que Ana Toni, o presidente da Conferência do Clima, André Corrêa do Lago, e a ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) negociaram a saída dos mundurkus e garantiram que uma comitiva deles seria recebida.
O grupo reuniu-se com Corrêa do Lago, Marina e a ministra Sônia Guajajara (Povos Indígenas) num edifício anexo ao Tribunal de Justiça do Pará, que fica nas proximidades da Zona Sul, a área oficial de negociações da COP30. “Trouxemos eles aqui para ter um diálogo com as duas ministras e comigo, e foi um diálogo muito construtivo, muito positivo. Realmente, eles têm preocupações muito fortes e muito legítimas, e nos transmitiram dois documentos que recebemos formalmente e que vamos procurar levar adiante todas as preocupações que têm”, explicou Corrêa do Lago.
Ainda na COP30, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou que mais de 60% da população mundial vive hoje sob impacto das mudanças climáticas na saúde. Ele trouxe dados do relatório especial “Saúde e Mudanças Climáticas: Implementando o Plano de Ação em Saúde de Belém”, divulgado ontem.
Segundo Padilha, um em cada 12 hospitais no mundo estão sob o risco de terem atividades paralisadas por conta de mudanças climáticas. “Mais de 60% da população mundial vive hoje sob impacto das mudanças climáticas na saúde, seja em tragédias como vimos no Paraná, seja no aumento da temperatura média, no aumento das queimadas, ou de outras condições. Esses dados consolidam a ideia de que a crise climática é uma crise de saúde pública e que a saúde é a face mais doída e que sofre os efeitos da crise climática”, explicou Padilha.
A jornalista viajou a convite da CNSeg
*Estagiárias sob a supervisão de Fabio Grecchi
Rosana Hessel
Repórter
Jornalista formada pela Católica (PUC-SP), com especializações em Economia por FGV-SP e IBMEC-SP e com MBA em Finanças pela FIA-USP. Como jornalista, trabalhou por 14 anos na Gazeta Mercantil, desde trainee, passando por várias editorias como repórter

