A estudante Ruth Tentunge, de 19 anos, saiu de casa no dia 24 de abril de 2001 disposta a terminar o seu namoro com o traficante Marco Antonio Peireira Firmino da Silva, o My Thor, preso na Penitenciária Serrano Neves (Bangu 3), na Zona Oeste do Rio. A entrada e a saída da jovem ficaram registradas na unidade prisional, mas Ruth nunca mais foi vista. De acordo com a polícia, logo depois de deixar a prisão, a estudante foi sequestrada, torturada e morta por ordem do bandido.
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Preso desde maio de 2000, My Thor controlava o tráfico em favelas da Zona Sul como Santo Amaro e Tavares Bastos, no Catete. Conhecido entre policiais como “bandido da machadinha” pela forma como decapitava suas vítimas, o criminoso está no cárcere até hoje. Em 2016, ele foi acusado de ordenar, de dentro da cadeia, o resgate de seu irmão, Nicolás Pereira de Jesus, o Fat Family, que estava detido no Hospital Souza Aguiar, no Centro do Rio. Fat Family foi morto três meses depois do resgate.
Nesta quarta-feira, My Thor, hoje com 55 anos, estava entre os sete líderes do Comando Vermelho transferidos do Complexo de Bangu para penitenciárias federais em diferentes estados do Brasil.
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My Thor conheceu Ruth quando a estudante tinha 14 anos, durante um baile funk na Tavares Bastos, favela que fica próxima ao apartamento onde a menina morava, no bairro do Flamengo, na Zona Sul do Rio. Os dois tiveram um filho, e o bandido chegou a montar uma casa para ela em Realengo, na Zona Oeste, um dos endereços que o criminoso tinha na cidade. Mas, de acordo com a família de Ruth, o namoro também foi marcado pela violência de My Thor, que frequentemente agredia a moça.
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No dia 21 de abril de 2001, a estudante foi a Bangu 3 com a intenção de encerrar a relação, mas não voltou para casa. No dia 5 de maio, O GLOBO publicou, com destaque, uma reportagem relatando o desespero da mãe de Ruth atrás de informações sobre a filha. No dia 23 do mesmo mês, policiais da 10ª DP (Botafogo) prenderam um comparsa de My Thor acusado de participação na morte da jovem. Segundo as investigações, Ruth foi cruelmente assassinada por ordem do bandido preso.
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Na época, os policiais informaram que My Thor usou um celular dentro da cadeia para determinar a morte da namorada. O aparelho, que pertencia a Ruth, foi uma peça chave da investigação, depois de ser apreendido por agentes do Departamento do Sistema Prisional (Desipe). Os policiais descobriram que o bandido tinha recebido ligações de um homem enquanto estava com o telefone e passou a acreditar que a namorada tinha um caso. Isso, segundo investigadores, selou o destino da moça.
De acordo com um detetive da 10ª DP, quando saiu do presídio, Ruth foi sequestrada por um comparsa de My Thor e levada para o Morro do Cerro-Corá, no Cosme Velho. Uma testemunha contou que ela foi torturada e estuprada pelo bando do traficante, antes de ser executada com disparos de pistola na cabeça. O corpo foi localizado, com perfurações no crânio, no dia 8 de junho, numa cova rasa da área de indigentes do Cemitério de São Lázaro, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense.
Em fevereiro de 2003, My Thor foi condenado a 11 anos de prisão por ordenar o assassinato de Ruth. O bandido já tinha, então, duas condenações por tráfico de drogas.

