
Eram pouco mais de 5h da manhã desta quarta-feira (13), e quem costuma participar da tradicional novena da Igreja Perpétuo Socorro das quartas dividia o mesmo espaço com quem veio pela primeira vez, atraído por um motivo especial: a passagem da réplica do corpo de São Vicente de Paulo, acompanhada de relíquias originais do santo conhecido mundialmente como “pai da caridade”.
A réplica do corpo de São Vicente de Paulo, acompanhada de relíquias originais, está em Campo Grande como parte das celebrações pelos 400 anos da Congregação da Missão. Fiéis madrugaram para ver o corpo do santo conhecido como “pai da caridade” na Igreja Perpétuo Socorro. A peregrinação, que inclui um fragmento de costela, um pedaço da túnica e uma carta original do santo, percorre várias dioceses brasileiras desde março de 2024. A programação em Campo Grande segue até 18 de novembro, com celebrações em diferentes paróquias, permitindo que milhares de fiéis participem das homenagens.
Dentro da igreja, havia gente em pé, outros ajoelhados diante do altar, onde a imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro ganhava um novo visitante: o corpo do santo francês.
Enquanto a canção “Ó Maria” ecoava, uma devota rezava baixinho, os olhos fixos na urna transparente que abriga a réplica. Ao lado, as relíquias originais, um fragmento da costela, um pedaço da túnica e uma carta escrita pelo próprio São Vicente de Paulo, eram apresentadas com reverência.

Entre os fiéis que chegaram cedo estavam Jacy Tenório Campagna, de 72 anos, professora aposentada, e o marido, Izolito Amador Campagna, de 74, também aposentado. O casal, que é vicentino há mais de 35 anos, soube da visita pelas redes sociais e pelo grupo da Sociedade de São Vicente de Paulo, da qual fazem parte.
Eles participaram da novena e das orações junto às relíquias por volta das 9h da manhã. Emocionada, Jacy descreveu o momento como uma graça.
“É muito emocionante. O sentimento da gente ser vicentino, de ajudar os pobres, vem à tona. A gente pede a intercessão dele e só tem a agradecer, pela família, pelas pessoas que assistimos, por tudo”, contou.
O casal coordena um grupo que acompanha sete famílias em situação de vulnerabilidade, levando cestas básicas e, principalmente, presença. “Não é só alimento”, explica Jacy. “A felicidade deles é quando a gente senta e conversa. Às vezes, o mais importante é ouvir.”
Para ela, ver as relíquias foi um presente. “Que Deus ofereça a outras pessoas essa experiência que nós tivemos. Ver o corpo, ver a relíquia, é muito gratificante”, resume.
Izoleto completa com serenidade de quem encontrou um símbolo de fé em carne e osso, mesmo que em réplica. “É uma experiência muito boa, de fé. Ter a oportunidade nessa vida de encontrar as relíquias é algo que agradeço a Deus”, diz. “Se eu pudesse falar com ele, agradeceria pela minha vida e por pertencer à confraria que ele criou, a Sociedade de São Vicente de Paulo. O que mais me comove é quando a gente consegue ajudar uma família a se reerguer, social e espiritualmente.”
Entre tantos devotos, a empresária Nina Matos, de 62 anos, também se emocionou ao conhecer as relíquias pela primeira vez. Moradora do bairro São Lourenço, ela participa da novena das quartas há anos, mas não conhecia a história de São Vicente de Paulo.
“Soube da visita e vim para entender toda a história dele. Achei muito interessante”, contou. “É muito importante trazer essa apresentação para um lugar como a Perpétuo Socorro, por onde passam tantas pessoas. Na minha opinião, foi um dos lugares ideais para apresentar o santo à população campo-grandense.”
Nina viveu um momento particular de fé. Há uma semana, a cachorrinha dos filhos, que moram em Três Lagoas, desapareceu. O pedido do filho, Sílvio, para que ela rezasse por Nossa Senhora e pelo animal, a trouxe ainda mais cedo para a igreja.
“Estamos abalados. Eles são um casal jovem que salva vidas, e a perda da cachorrinha mexeu com todos nós. Pedi para Nossa Senhora e agradeci por essa oportunidade de fé. Quando me apresentaram o santo, pedi também para ele colaborar, para que ela volte. Hoje, saio com a fé reforçada. Foi muito importante.”
A peregrinação faz parte das celebrações pelos 400 anos da Congregação da Missão, fundada por São Vicente de Paulo, e do Ano Jubilar da Esperança, instituído pela Arquidiocese de Campo Grande. A visita coincide com a Semana Mundial dos Pobres, proposta pelo Papa Francisco, e o Jubileu da Caridade, que será encerrado neste domingo (17).

Quem conduz a viagem é o padre Edson Friedrichsen, guardião da relíquia, responsável por acompanhar o corpo do santo pelas estradas brasileiras. Desde março de 2024, ele e uma pequena equipe percorrem o país em uma van adaptada, levando o santo por diferentes dioceses.
“É um percurso de fé e serviço. O espírito missionário de São Vicente percorre o Brasil inteiro, chamando as pessoas a se colocarem a serviço, especialmente dos mais pobres”, explica o padre.
Até agora, a peregrinação já passou por dioceses de São Paulo, Espírito Santo, Paraná e todo o Rio de Janeiro, chegando agora a quatro dioceses de Mato Grosso do Sul.
Segundo o padre Edson, as relíquias despertam profunda emoção entre os fiéis. “São três: uma costela, uma carta que ele escreveu a Santa Luísa de Marillac e um pedaço da roupa que usava. É um contato direto com a história de quem dedicou a vida aos necessitados”, explica.
Durante o jubileu, os participantes podem receber indulgência plenária, uma bênção especial concedida pelo Papa Francisco a quem participa das celebrações com fé e confissão sacramental.
A Arquidiocese organizou a passagem das relíquias por cinco a seis pontos de peregrinação, de modo a permitir que o maior número possível de pessoas possa participar, considerando que a Igreja Perpétuo Socorro chega a receber mais de 30 mil pessoas por dia em suas novenas.
A programação segue até o dia 18 de novembro, com celebrações, missas e momentos de veneração em diferentes paróquias da capital.
Segue a programação completa
13/11 – Paróquia São Francisco de Sales – Capela São Vicente de Paulo (Jardim Panamá)
09h – Recepção e acolhida das relíquias.
Durante todo o dia: exposição para veneração dos fiéis.
18h – Santa Missa, seguida de vigília.
14/11 – Paróquia São João Batista (Cophasul)
06h – Recepção e Santa Missa.
19h – Santa Missa.
Durante todo o dia: relíquias expostas.
15/11 – Paróquia Santo Agostinho de Hipona (Vila Taveirópolis)
07h – Acolhida e exposição das relíquias.
12h – Santa Missa.
15/11 – Paróquia São Pedro Apóstolo (Coronel Antonino)
15h – Recepção e adoração ao Santíssimo.
19h – Santa Missa.
16/11 – Paróquia Nossa Senhora Aparecida (Vila Planalto)
08h – Santa Missa solene do Jubileu da Caridade.
Durante todo o dia: exposição e atividades do jubileu.
17/11 – Mosteiro Cisterciense (Vila Santa Dorotheia)
06h – Santa Missa e exposição das relíquias até 12h.
17/11 – Seminário Maior Maria Mãe da Igreja (Jardim Seminário)
14h às 17h – Visita das relíquias.
17/11 – Paróquia São João Calábria – Capela São Vicente de Paulo (Jardim Campo Nobre)
18h30 – Recepção e acolhida das relíquias.
19h – Santa Missa.
18/11 – Paróquia Pessoal Nossa Senhora da Saúde (Centro)
07h – Recepção e Santa Missa.
Durante o dia: relíquias expostas até 15h.
12h – Santa Missa.
18/11 – Paróquia São Martinho de Lima (Jardim das Mansões)
16h – Recepção e veneração das relíquias.
19h30 – Santa Missa.


