O pai dele começou no ramo em 1977 e faleceu há 3 anos; filho toca o negócio desde então
Na Rua Manoel Garcia de Souza, no bairro José Alves Pereira, o nome de Ismael vira Jonas. A troca pela identidade do pai não é feita por ele, mas pelos clientes que ainda acham que a mercearia da família é comandada por Jonas. Para Ismael, a confusão é uma honra e uma homenagem ao legado do pai, que, segundo ele, foi um dos primeiros moradores do bairro, atrás apenas de José Alves Pereira.
Ismael da Silva Leite mantém vivo o legado do pai, Jonas, em uma mercearia no bairro José Alves Pereira, em Campo Grande. O estabelecimento, fundado em 1977, continua sendo conhecido pelo nome do patriarca, falecido há três anos, que foi um dos primeiros moradores da região. A história da família começou em Glória de Dourados, quando Jonas deixou a agricultura após uma lesão nas costas. Em Campo Grande, ele construiu a mercearia, que resistiu a mudanças de endereço e hoje é administrada pelo filho, que preserva móveis e equipamentos antigos como memória do pai, que trabalhou até os 87 anos.
Jonas da Silva Leite faleceu há 3 anos. Desde então, a mercearia trocou de nome, mas isso não foi suficiente para apagar da memória de quem comprou itens ali a vida toda. Aos 56 anos, Ismael da Silva Leite mantém-se fazendo a pequena mercearia vingar. Vende de tudo, desde material escolar até produtos de limpeza e balas. Em frente à escola do bairro, o público mais fiel é formado por estudantes e alguns vizinhos.
“O pessoal me chama de seu Jonas, e eu fico quieto para não perder esse negócio. Quem dera eu fosse. Eu fico feliz. Trabalho aqui desde 1977. Meu pai começou nesse ano, mas tínhamos outra mercearia antes, aqui perto. Desde os meus 8 anos fico aqui com ele. Ele é o morador mais antigo daqui. Nós viemos de Glória de Dourados, da 16ª Linha, uma vila chamada Presidente Castelo hoje.”
A família morou lá até Jonas não poder mais trabalhar. Como o sustento vinha da agricultura, logo que machucou as costas durante um serviço, precisou largar essa vida e buscar outra forma de ganhar dinheiro.
“Aqui ele iria comprar um terreno na Gury Marques, mas o valor que ele tinha dava um terreno só. Como aqui era distante e no meio do mato, dava dois. Ele preferiu aqui. Meu pai trabalhou até os 87 anos. Ficou até o final e estava bem lúcido”.
Ismael se lembra dos conselhos que o pai dava e do que ele deveria prezar na vida. “Falava para andar correto, escrever minha história aqui na terra para que falassem bem de mim. O legado que ele deixou é incrível. A nossa geração não chega onde ele chegou. Saiu uma pracinha com o nome dele, o colégio que ele trouxe, o posto. Ele que pediu.”
Jonas chegou a ser vereador de Glória de Dourados. Teve a chance de entrar para a política aqui, mas preferiu a mercearia. Com dinheiro, comprou dois terrenos próximos. Em um deles fez a empresa e, no outro, a casa para a família. Ismael relembra os tempos em que o pai comandava.

“Na época, havia um pessoal de uma olaria próxima que comprava muito fiado na nossa mercearia. Como o espaço era pequeno, não dava para todos entrarem; tinha que ser por fila. A gente comprava mantas de charque para vender e vendia tudo. Na Sexta-feira Santa, colocávamos duas caixas de bacalhau à venda e vendíamos tudo também. Era caríssimo na época.”
O endereço mudou quando Ismael teve um tumor no cérebro em 2005. O pai vendeu o que tinha para tentar ajudar. Depois disso, Ismael ficou aos cuidados dele. Segundo conta, demorou anos para que se sentisse “normal” e fosse independente novamente.
Ele gastou tudo o que tinha comigo para cuidar de mim. Teve que vender bens para pagar minha cirurgia. Hoje, o imóvel virou um conjunto de casas. Como ele já havia comprado este terreno, que contava com uma varanda, fizemos a mercearia aqui. Eu moro nos fundos.
Ali, a família começou novamente. A mãe, Alice dos Santos Leite, faleceu há quatro anos. Com a partida dela, Jonas ficou mais apático e gostava de ir à mercearia para se distrair. “Ele sentiu muito a perda dela; viveram 65 anos juntos. Ele mudou completamente. Aí se somaram a idade e os problemas de saúde.” Ao todo, a família era formada pelos pais de Ismael e por seis irmãos.
Para o filho, Jonas deixou a mercearia como legado que ele assegura que tocará até o fim. “Eu gosto disso. Aqui há um balcão antigo e uma balança antiga. O freezer também é antigo. Vendo café, açúcar, o básico caso falte na casa da pessoa. O povo vem mais atrás de coisas em geral. Meu preço é justo.”
Ele ainda guarda as fitas que gravava para o pai ouvir no carro, entre as preferidas de Tonico e Tinoco. “Ficaram muitas lembranças boas. Eu só lembro dele com muita alegria. Gosto quando falam dele. Não tenho remorso de nada, só saudade. Sei que o legado dele nunca vai morrer.”
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