Esquerda critica relatório de Derrite sobre PL Antifacção e compara texto à PEC da Blindagem: ‘Presente para as facções’

por Assessoria de Imprensa


Em resposta às mudanças propostas pelo relatório do deputado federal Guilherme Derrite (PP-SP) no PL Antifacção, a esquerda tem repetido a estratégia usada para barrar o avanço da PEC da Blindagem e se mobilizado contra o texto a partir das redes sociais. No centro das críticas, há uma determinação, prevista na primeira versão do texto apresentado na sexta-feira, que afirmava que a atuação da Polícia Federal (PF) deve acontecer mediante a autorização concedida pelas autoridades estaduais.

O trecho levou à publicação de uma nota assinada pela corporação na página oficial do governo. O comunicado dizia que “a alteração, somada à suspensão de competências da Polícia Federal, compromete o alcance e os resultados das investigações, representando um verdadeiro retrocesso no enfrentamento aos crimes”.

Outro post feito no perfil também afirmava que o combate ao crime organizado foi colocado “em risco” e que o relatório “distorce o projeto do governo e protege facções criminosas contra a atuação da Polícia Federal”. “A quem interessa limitar a atuação da PF no combate ao crime organizado?”, completa a legenda da publicação.

As críticas foram repetidas pelo líder do PT na Câmara, o deputado Lindbergh Farias (RJ), que também descreveu o parecer de Derrite como “uma nova versão da PEC da Blindagem ou PEC da Bandidagem”. Aprovado na Câmara em setembro, o texto estabelecia a necessidade do aval do Congresso para a abertura de investigações contra parlamentares. Após manifestações que levaram a população para as ruas contra a medida em setembro, a proposta não avançou e foi derrubada pelo Senado em seguida.

“Os mesmos setores da política que defenderam a PEC se articularam para enxertar nesse tema uma nova forma de blindagem ao tirar a força da PF”, escreveu o petista em sua publicação. O deputado também disse que existiria “muita gente no parlamento com medo dos desdobramentos” de investigações como a que resultou na Operação Carbono Oculto, que desvendou um esquema de lavagem de dinheiro do PCC a partir do setor de combustíveis fósseis.

O assunto também foi mencionado pela ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, que afirmou que as mudanças propostas são “um presente para as facções que atuam em todo o país, inclusive no mercado financeiro, e que estão sendo enfrentadas com inteligência”. Nesta terça-feira, ela tem um encontro marcado com o presidente da Câmara, Hugo Motta, para tentar chegar a um acordo sobre o texto.

Dentro do governo, reclamações também foram publicadas pelos ministros Paulo Teixeira, da Agricultura, Luiz Marinho, do Trabalho, além de Guilherme Boulos, recém-empossado no comando da Secretaria-Geral da Presidência. Em seu perfil no X, disse que Derrite, enquanto secretário licenciado de Segurança Pública de São Paulo, foi mandado pelo governador do estado, Tarcísio de Freitas, para “blindar os peixes grandes que a PF está pegando”. “É a segunda versão da PEC da Blindagem, que o povo derrotou nas ruas”, completou.

A comparação foi retomada pelo presidente do PT, Edinho Silva, em um vídeo publicado nas redes sociais do partido:

— O relatório do projeto antifacção feito pelo secretário de segurança pública de São Paulo atrapalha quem realmente investiga o crime organizado no Brasil. Ele faz o oposto do que a sociedade quer: é um verdadeiro PL da blindagem para os criminosos — disse na gravação.

Ao GLOBO, o atual secretário de comunicação da sigla, Éden Valadares, repetiu a percepção de Edinho e disse que a mobilização da base nas redes sociais serve como a abertura de uma linha de “diálogo com a população” contra a mudança no andamento das investigações conduzidas pela PF.

— Não se trata de estratégia de comunicação, é o que o texto literalmente diz. E o PT, com as suas bancadas e lideranças, não é apenas contra essa mudança, mas também vai dialogar com a sociedade sobre essa proposta de enorme retrocesso. Isso está na contramão do que espera a sociedade e pode jogar o Congresso Nacional de novo em rota de colisão com a opinião pública — afirmou.

Mobilização da base e resposta da oposição

Como parte da mobilização, se manifestaram pelas redes sociais nomes do partido como os deputados Reimont (PT-RJ), Rogerio Correia (PT-MG), Adriana Accorsi (PT-GO), Maria do Rosário (PT-RS), Alencar Braga (PT-SP) e Carlos Zarattini (PT-SP). Além deles, integrantes da bancada do PSOL, como Erika Hilton (SP), Talíria Petrone (RJ) e Glauber Braga (RJ), também aderiram às críticas.

O tema também passou a repercutir em grupos de WhatsApp que reúnem militantes do PT e em páginas no X de esquerda, que levaram aos trending topics da rede social frases como “Congresso da Bandidagem”, “Defendam a PF”, “PL do Crime Organizado” e “Motta e Derrite protegem o crime”. Juntas, as hashtags tiveram ao menos 187,5 mil menções até o início da tarde desta terça-feira. O nome de Derrite sozinho, no entanto, foi citado mais de 193 mil vezes no mesmo período, de acordo com um monitoramento feito pelo GLOBO.

Após as reclamações do governo e da base, Derrite apresentou uma nova versão do relatório ontem. O novo parecer deixou de fora o trecho que determinava que a PF precisaria de autorização dos governadores, mas manteve a orientação para que a corporação comunique “as autoridades competentes” para ter apoio investigativo, técnico, operacional ou informacional” no combate às facções.

A nova alteração foi elogiada por aliados, como o senador Sergio Moro (União-PR), que disse no X que a versão atualizada “resolve algumas objeções apontadas pela comunidade da segurança pública”. Entre outros parlamentares aliados, no entanto, o tema tem sido abordado e ainda não foi alvo de uma resposta coordenada.



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