O projeto de lei antifacção, que está sendo relatado pelo secretário de Segurança de São Paulo e Deputado Federal Guilherme Derrite virou uma discussão cujo centro é comparar as ações das quadrilhas do crime organizado no Brasil com grupos terroristas. É uma ideia da direita, que segue o conceito internacional – de Trump – de que na verdade são traficantes que praticam atos como terroristas – narcoterroristas. Isto abre brecha internacional para combate ao terrorismo que pode criar problemas nas legislações, e até permitir uma intervenção internacional a pedido de algum governo. Seria um caso como o da Colômbia, cujo governo pediu ajuda. No Brasil, o governo atual não pretende combater o crime organizado com ajuda externa e está se opondo à comparação. A reação foi muito grande e Derrite fez uma meia volta, mas ainda assim insistindo na semelhança entre atos terroristas e atos criminosos das facções. Apesar das mudanças, ainda há quem acredite não ser suficiente. O próprio presidente Lula reclamou com o presidente da Câmara, Hugo Motta, de ter colocado Derrite como relator. Mas ele não tem força congressual para mudar. Só pressão pública e parlamentar podem fazer Derrite mudar. Na verdade, ele foi escolhido relator justamente porque tem esta visão, de que o crime das facções tem que ser comparado ao terrorismo, para um combate melhor. Esta é a grande discussão técnica. E não há especialista em segurança que considere isto essencial; ao contrário, acham que pode atrapalhar, porque a situação entra em um nível jurídico que pode ser complicado. Mas esta é uma disputa técnica de fundo político. É a direita querendo pressionar por uma posição mais radical no combate ao crime, fazendo com que a impressão geral fique de que o governo não quer combatê-lo. Vai ser uma disputa de narrativas e de quem tem voto para mudar isto.

