Este domingo em Rio Bonito do Iguaçu (PR) foi de silêncio de despedida. Em um salão paroquial, centenas de pessoas se reuniram em um velório coletivo para se despedir de quatro das cinco vítimas do tornado que atingiu a cidade na última sexta-feira (7/11). O espaço, preservado da destruição, foi escolhido e se tornou ponto de encontro para moradores que ainda tentam compreender a dimensão do que ocorreu.
Durante todo o dia, o movimento foi constante no local. Moradores chegaram com flores, velas e orações. Muitos preferiram apenas observar, em silêncio, o cenário que misturava dor e solidariedade.
Entre as vítimas estava Júlia Kwapis, de 14 anos, cuja história mobilizou a cidade. A adolescente estava na casa da amiga Heloísa quando o vento começou a soprar com força. No momento da passagem do tornado, que pegou as duas de surpresa, elas chegaram a se abraçar, mas foram separadas pela ventania, que chegou a 250km/h. Heloísa foi arrastada por mais de 150 metros e sobreviveu. Júlia foi arremessada contra o muro do Centro Municipal de Ensino Infantil (CMEI) da cidade, que chegou a ser destruído pela força da ventania. Ela foi socorrida, mas não resistiu.
O pai da adolescente, Roberto Kwapis, falou aos jornalistas presentes no velório, sobre o que ficou de lembrança da filha. “O que vai ficar é a certeza do amor que eu tinha por ela, e ela por mim”, antes disso, comovido, chegou a informar que procurou a adolescente em todas as unidades hospitalares das cidades vizinhas, mas não a encontrou.
Fé e comoção
Uma das peculiaridades com relação à partida precoce de Júlia foi que ela faria a crisma no último sábado (8/11). A família a reconheceu no hospital pela descrição das unhas de porcelana, um detalhe que refletia seu cuidado pessoal.
O sepultamento ocorreu no fim da tarde, no Cemitério Municipal. O cortejo foi acompanhado por familiares, amigos e vizinhos. Uma ambulância permaneceu no local para prestar atendimento a quem passasse mal durante a cerimônia.
O tornado, classificado como F3 pelo Sistema de Meteorologia do Paraná, deixou mais de 700 feridos e afetou cerca de 10 mil pessoas. Além de Júlia, morreram José Gieteski, 83, Claudino Paulino Risse, 57, Jurandir Nogueira Ferreira, 49, e Adriane Maria de Moura, 47 — esta última sepultada em Sulina.
Suporte para vítimas
Até o sábado (8/11), 784 atendimentos haviam sido realizados na rede hospitalar da região. Mais de 30 ambulâncias seguem mobilizadas, e o atendimento emergencial ocorre também em Laranjeiras, Cantagalo e Saudade do Iguaçu.
A Copel informou que, até a manhã deste domingo, 49% da rede elétrica do município havia sido restabelecida. Estruturas prioritárias, como o posto de saúde, o Centro do Idoso e o comando da Defesa Civil, voltaram a ter energia ainda na tarde de sábado.
Entre o luto e o esforço de reconstrução, Rio Bonito do Iguaçu tenta retomar a rotina. O que ficou, por enquanto, é o silêncio de uma cidade que busca se recompor após a passagem do vento.

