Conhecido como Zé do Brejo, José Carlos Cleto conquistou o título de Lenda do Pantanal e inúmeros amigos ao longo de mais de 50 anos trabalhando na fazenda Caiman. Nesta sexta-feira (7), ele faleceu aos 76 anos devido a um AVC repentino e deixou os amigos que conviviam com ele há mais de duas décadas desolados. Familiares se despediram do homem descrito como amável neste sábado (8). Para eles, Zé era dono de um carisma sem tamanho e de um coração ainda maior.
José Carlos Cleto, conhecido como Zé do Brejo, faleceu aos 76 anos na última sexta-feira devido a um AVC. Durante mais de cinco décadas, trabalhou na fazenda Caiman, onde conquistou o título de Lenda do Pantanal e construiu uma vida repleta de amizades e realizações.Começando como peão de campo aos 18 anos, Zé do Brejo tornou-se capaz de retiro, administrando parte dos 250 mil hectares da propriedade. Seu legado inclui ensinamentos transmitidos a diversos trabalhadores da região, sendo lembrado por sua honestidade, dedicação e carisma. Deixa esposa e quatro filhos.
Os sintomas começaram um dia antes, mas mesmo assim não houve tempo de impedir a morte. Um dos amigos de longa data, Eduardo Santos da Rosa, de 61 anos, gerente pecuário da Estância Caiman, conta que, na semana passada, falou com Zé do Brejo sem imaginar que aquela seria a última vez.

“Fazia dias que não o via. Zé era alegre como sempre, estava bem, brincando. Trocamos ideia e, na quinta-feira, ele começou a sentir dor de cabeça e mal-estar, foi para Miranda e, na sexta, teve o AVC. Ele estava bem de saúde, tomava remédio para pressão só. Amava o que fazia.”
José chegou à fazenda Caiman por volta dos 18 anos e construiu ali toda a sua vida. Era da época em que a propriedade era uma única fazenda. Começou como peão de campo e, com o passar dos anos, foi adquirindo experiência até se tornar capaz de retiro, uma subseção responsável por parte dos 250 mil hectares da fazenda na época.
“Fica muito respeito e muito aprendizado. Era uma pessoa que nunca foi capaz de empurrar um companheiro. Era muito querido na fazenda por todos os setores. Vai deixar muita saudade. Homem de caráter e de respeito em todos os sentidos, profissional e familiar. O Zé tinha todos eles, preservou a honestidade, a dedicação e a amizade.”

José também foi professor sem saber. Entre os muitos que aprenderam com ele está Adson Santos, guia de campo que começou na pecuária e quase desistiu do trabalho. Quem fez o rapaz continuar e tomar gosto pela nova função foi Zé do Brejo.
“No começo eu não gostei muito de ficar como guia. Eu ia até pedir as minhas contas porque não me adaptei. Mas, em certo momento, seu Zé Carlos foi transferido do retiro da fazenda para cuidar do gado na sede. Foi nessa hora que tive oportunidade de conhecer ele pessoalmente. A nossa amizade só crescia e, nesse período, a gente se tornou muito chegado um do outro e até esqueci de pedir a conta.”
Entre risos e lembranças, Adson conta dos carreteiros pantaneiros que preparava para o Zé e das rodas de tereré em que o tempo parecia parar.
“Ele me ensinou muitas coisas, passava conselhos muito bons. Ele me tratava como neto e eu tratava ele como se fosse meu pai. Gostava muito de contar as histórias dele no Pantanal nas rodas de tereré e, nisso, a gente ia só aprendendo com ele.”
Ver se ele estava bem passou a ser rotina para o amigo. Assim como levar gelo para ele beber água mais fresca. Até o tereré Adson servia.
“Eu fazia carreteiro pantaneiro para seu Zé, ele amava isso. Sou grato a Deus por ter me dado a oportunidade de conhecer seu Zé durante seis anos. Aprendi com Zé do Brejo a viver em liberdade. Um dia quero ser igual a ele, uma lenda do Pantanal.”
O legado de Zé também se mantém na família. Luís Cleto, um dos quatro filhos, fala do pai com orgulho e serenidade. Para ele, o que fica é o exemplo.
“Ele nos ensinou tudo o que a gente é hoje. Era inteligente, calmo nas dificuldades, honesto e amável. Ajudou muita gente. A gente vê pelo tanto de pessoas que ele ensinou, que ele inspirou. Eu cheguei a dizer isso para ele em vida, e isso é o que mais me conforta.”
Na fazenda, o silêncio agora pesa. O lugar que já ouviu tantas histórias e cantorias de José Carlos, amanheceu quieto. O homem que viveu entre gado, rio e horizonte descansa.




