É hora do Brasil levar a sério o fair play financeiro – 05/11/2025 – Esporte

por Assessoria de Imprensa


Em um futebol cada vez mais profissional e competitivo, a responsabilidade financeira deve ter o mesmo peso que o desempenho dentro de campo. A Fifa reconhece isso há anos e atua com rigor contra a inadimplência. Clubes que não cumprem suas obrigações em transferências internacionais são punidos com rapidez, por meio de “transfer bans”, multas e juros, o que preserva a credibilidade do jogo e assegura condições justas de competição.

No Brasil, a CNRD (Câmara Nacional de Resolução de Disputas), órgão da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) responsável por julgar conflitos entre clubes, atletas e intermediários, cumpre papel essencial nesse processo. Criada em 2016, tornou-se o principal canal de resolução de disputas no futebol nacional. Com a recente atualização do regimento e nomeação de novos membros, deu passos importantes rumo a uma atuação mais ágil e transparente.

No entanto, para que a CNRD possa garantir decisões rápidas e eficazes, precisa de mais investimento e estrutura. O volume de casos cresce ano após ano, movimentando valores expressivos e exigindo uma equipe técnica reforçada e tecnologicamente equipada. Fortalecer a câmara é fortalecer a governança do futebol brasileiro.

Ao mesmo tempo, é essencial que as decisões e os acordos mantenham equilíbrio entre credores e devedores. Em alguns casos recentes, as condições acabaram favorecendo clubes inadimplentes, com prazos alongados e ausência de juros, o que distorce a lógica do sistema. Clubes que mantêm suas obrigações em dia, como o Cuiabá, muitas vezes precisam recorrer ao mercado financeiro para honrar compromissos, arcando com custos e taxas elevadas.

O Cuiabá é credor de R$ 41 milhões em transações com clubes brasileiros. Um exemplo emblemático é o do Atlético-MG, que comprou Deyverson em agosto de 2024. O atacante teve papel importante na campanha da Libertadores, ajudando o time a chegar à decisão, e depois foi vendido ao Fortaleza. Até agora, o valor da transferência não foi quitado com o Cuiabá. Essa realidade mostra como o sistema atual, sem punições efetivas, premia quem não cumpre.

O futebol internacional oferece bons exemplos. A Alemanha adota regras rígidas desde 1962; a Itália, desde 1981; e a Holanda, desde 2003. Este ano, o tradicional Vitesse Arnhem, fundado em 1892, foi excluído do futebol profissional após graves irregularidades administrativas. Já a Uefa, desde 2009, aplica sanções rigorosas: Chelsea, Barcelona e Lyon foram multados também neste ano por descumprimento de regras financeiras.

Defender o fair play financeiro não é defender burocracia, mas responsabilidade e coerência. O futebol brasileiro evoluiu em gestão, estrutura e receitas, mas ainda carece de mecanismos sólidos de controle e punição equilibrada. A CNRD representa um avanço importante e merece todo o apoio da CBF e dos clubes para evoluir em estrutura, tecnologia e eficiência.

Investir no órgão é investir na credibilidade e na sustentabilidade do futebol nacional. O fair play financeiro não é um conceito europeu, e sim uma necessidade global que garante competitividade e justiça dentro e fora de campo. Se o Brasil quer ser protagonista no cenário internacional, precisa agir com a mesma seriedade que cobra dos outros —cumprindo compromissos, valorizando quem faz o certo e fortalecendo as instituições que zelam por um futebol mais equilibrado e responsável.



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