Sapateiro começou cedo no ofício, já fez calçados femininos, mas foi no sapato de peão que resolveu investir
Para muitos, trabalho repetitivo é igual a castigo, mas para Jailson Rodrigues, 53 anos, que faz o mesmo estilo de sapato há 25 anos, é alegria. O gosto pela coisa começou por necessidade, ainda na pré-adolescência, aos 13. Depois, ele tomou gosto e nunca mais parou de fazer botina. Mas nem sempre o sapato feito para serviços em fazenda foi o ganha-pão. O sapateiro começou fazendo calçados femininos.
Jailson Rodrigues, 53 anos, dedica-se há 25 anos à fabricação artesanal de botinas em Campo Grande. O ofício, iniciado aos 13 anos por necessidade, transformou-se em paixão após uma transição do mercado de calçados femininos, que abandonou devido às constantes mudanças da moda. Em sua fábrica artesanal no bairro Caiçara, Rodrigues trabalha sozinho, utilizando couro e sola de pneu para produzir botinas que vende a R$ 70 o par. Além da sapataria, mantém um bar improvisado no mesmo local, onde os próprios clientes, majoritariamente vizinhos, se servem enquanto ele continua sua produção de calçados.
O ramo deu certo por um tempo, mas o que ele não contava era que a moda ditaria mesmo os rumos das sandálias e mandaria para o lixo o que ninguém quer. O jeito foi se reinventar. Foi aí que a botina entrou no jogo. O trabalho é feito com couro e sola de pneu. Jailson faz desde o corte da pele até a costura e o solado.

“Tudo começou com uma vizinha na rua de baixo. O genro dela tinha uma sapataria. Eu, moleque com cinco irmãos e com a mãe viúva, fui lá para fazer office-boy. Naquele tempo, era diferente. Antes, a gente se virava. Eu levava e buscava os consertos de bicicleta na cidade. Trabalhei uns quatro ou cinco anos assim. Depois, um cara ficou sabendo do meu trabalho, me tirou de lá, e trabalhei uns dez anos com ele. A fábrica quebrou e eu fui trabalhar por conta.”
O par é vendido a R$ 70, preço único, independente da cor. No momento, ele trabalha com as cores preta, marrom clara e vermelha. “Antes eu fabricava calçado feminino porque a margem é maior, mas todo ano jogam um monte de calçado fora porque a moda muda, a botina não. Faço a mesma coisa há 25 anos. Às vezes muda a cor, mas é do mesmo jeito. Não enjoo.”
Jailson diz não ter uma parte favorita na confecção e que gosta de todos os processos. Nas mãos, há inúmeros machucados devido ao uso das facas de corte e do martelo para pregar o couro na sola do sapato. Ele explica, inclusive, que essa parte é a que faz a botina ser boa; por isso, precisa dedicar mais tempo.
“Aqui, na hora de puxar o couro, não é força; é técnica, para o bico não ficar quadrado. Minha mão é cheia de machucados; sou muito desastrado e vivo batendo nas coisas. Eu gosto disso: da pessoa chegar e ver que eu faço calçados. Sou de uma família grande: somos 23 tios e ninguém conhecia uma fábrica.”
O sapateiro explica que a durabilidade da botina depende do propósito da compra. Se for para uso em fazenda, construção ou mangueiro, dura quatro meses. Se for para outros fins, pode durar anos.

“As botinas que faço, eu também uso. Quem tira leite, anda no mangueiro e é pedreiro dura menos. Já para os motoqueiros, dura bem mais. Eu era motoqueiro quando peguei uma para mim, mas, de tanto descer da moto, ela vai se desgastando. No caso do pedreiro, vai comendo o couro, e, para quem mexe com leite, é o sal que corrói.”
Apesar de os negócios irem bem há tanto tempo, Jailson não tem ajudantes na produção. Segundo ele, primeiro porque dá trabalho e, segundo, porque ninguém quer, de fato, trabalhar.
“Trabalho sozinho porque mão de obra não existe em Campo Grande e é mais uma despesa. Enquanto eu estiver dando conta de fazer, vou continuar assim. Dá para tirar um dinheiro bom, mas a carga horária é 24 h. Sai daqui, deita na cama e pensa no que tem que fazer no outro dia, na vida do empresário.”
No bairro onde nasceu e cresceu, o sapateiro também fez um bar improvisado só para complementar a renda. O local é interligado à fábrica artesanal.
Confira a galeria de imagens:
“Nos finais de semana eu abro o bar. Quando não quero ou cismo, fecho o fim de semana e volto só na quarta. Eu faço meu horário. Normalmente abro das 9h às 12h. Depois retorno às 15h e fico até as 22h. Às vezes preciso chegar às 7h e não há hora para sair. Aqui, tenho lixadeira e máquina de costura. Recebo o couro aberto; então corto na máquina, costuro, monto e colo as peças.”
Jailson acrescenta que a ideia do bar não era para ele, mas sim do irmão. Porém, os planos não deram certo: ele foi assaltado no imóvel e desistiu. Jailson resolveu continuar. “Eu fico cuidando. À noite chega a maior parte dos clientes do bar, que são os vizinhos, e eles se viram. Eles mesmos se atendem. Até ajudam a tirar prego do sapato enquanto tô costurando.”
Para comprar as botinas, basta ir até a Rua Rocha Pombo, número 456, no bairro Caiçara.
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