Em um ano, o Portal da Queixa registrou um aumento de 18% das reclamações contra a AIMA. Nos primeiros sete meses de 2025, foram 1,5 mil, com os brasileiros liderando.
Sucessora do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), a AIMA afirma que herdou 400 mil processos. O objetivo era zerar até junho deste ano, prazo que foi adiado para o fim de 2025.
Imigrantes passam a madrugada enfileirados na rua em busca de uma senha na AIMA. Uma humilhação que expõe o atendimento arcaico e sem dignidade em plena era digital.
Os brasileiros relatam que, desde o seu primeiro dia, a AIMA mantém histórico de dificuldade no atendimento, prejudicando quem vive no país.
É o caso da brasileira Nanci Araújo, que casou em Portugal com um português e que tenta há cinco meses fazer o reagrupamento familiar previsto em lei para familiares de cidadãos da União Europeia.
— Pediram para eu ligar e mandar e-mail para agendamento. Só consegui enviar o e-mail com ajuda da Casa do Brasil. Nossos e-mails diretos nunca tiveram resposta — disse ela.
Apesar de ter conseguido ao menos que o e-mail fosse recebido, Nanci continua sem uma data para iniciar o processo de pedido de autorização de residência por reagrupamento:
— A falta de resposta tem me prejudicado muito. Fico sem poder trabalhar, perdi oportunidades de emprego e tenho a vida parada à espera de uma solução.
Mesmo de posse de toda burocracia exigida pela legislação, Nanci diz viver à margem da sociedade portuguesa, porque não tem documentos básicos, apesar de ser casada com um português.
— Gera insegurança e frustração. Não consigo abrir conta bancária nem trocar a carteira de motorista. Estou de mãos atadas. Já me chamaram para trabalhar, mas não tenho documentação.
Depois de três anos, o carioca Guilherme Mayerhofer recebeu na última sexta-feira a autorização de residência. Enquanto esperava, teve negado o cartão de cidadão obtido pelo estatuto de igualdade.
No período sem documentação em Portugal, Guilherme perdeu oportunidades de trabalho e recebeu ameaças da polícia.
— Cheguei em novembro de 2022 e fiz a manifestação de interesse em dezembro do mesmo ano. Também consegui o cartão de cidadão só depois da autorização de residência.
Como publicado nesta reportagem, na qual brasileiros mostram indignação com a nova lei da cidadania e o caos na AIMA, o gestor comercial Márcio Abelha diz que esperou quatro anos pela autorização.
— Muita demora. A agência de imigração (AIMA) não consegue dar uma resposta concreta. Você não consegue saber se o seu documento foi emitido, enviado… É uma bagunça! — afirmou Márcio.
Em grupos WhatsApp, brasileiros reclamam que não conseguem agendamento na AIMA para tentar residência via visto expedido no Brasil. No site, dizem que não têm acesso ao formulário.
Presidente da maior associação, a Solidariedade Imigrante, Timóteo Macedo resumiu a situação da AIMA em entrevista à agência “Lusa”. Segundo ele, objetivo do governo seria cansar os imigrantes”.
— O governo não quer que a AIMA funcione e organizou para que as coisas não funcionem (…) colocou gente à frente que não permite que as coisas funcionem — disse Macedo.
Procurada, a AIMA não respondeu.

