O presidente Lula deve fazer hoje a primeira manifestação sobre a operação que resultou em pelo menos 119 mortes, segundo os dados oficiais ainda parciais, nos Complexos do Alemão e da Penha, no Rio. A fala deve ocorrer durante a posse de Guilherme Boulos na Secretaria Geral da Presidência, nesta tarde. Ela estava prevista para as 16h, mas está atrasada.
A orientação no governo é não deixar que a guerra no Rio seja empurrada para o colo de Lula, como, avaliam pessoas próximas ao presidente, seria o desejo do governador Cláudio Castro.
Os discursos dos ministros, até aqui, têm sido cautelosos. Não condenam com a mesma veemência empregada por parlamentares de esquerda ou movimentos de defesa dos direitos humanos. Têm usado como contraponto à operação de alta letalidade a Operação Carbono Oculto, que revelou a infiltração do PCC em atividades econômicas sofisticadas com ênfase na inteligência e sem emprego de violência.
Gleisi Hoffmann e Ricardo Lewandowski, em entrevistas depois de reunião com Lula no Alvorada, foram nessa linha. Reconhecem a necessidade de combate ostensivo às facções, mas enfatizam principalmente a importância da inteligência, do combate às finanças das facções e a necessidade de cooperação sistemática, que seria possível com a aprovação da PEC da Segurança.
Movimentos de defesa de direitos humanos começaram a cobrar uma condenação mais veemente morte de 119 pessoas, como têm feito parlamentares do PT e do PSOL, mas existe um cuidado para que não seja colado em Lula a “defesa de bandidos”, um flanco que ficou mais aberto depois da fala do presidente no fim de semana na Malásia, quando afirmou que os traficantes são “vítimas” de usuários de drogas –frase logo corrigida pela Secom, mas que voltou a ser ecoada pela direita desde terça-feira.
Uma evidência tanto do cuidado de afastar a crise do Palácio é que o titular da Casa Civil, Rui Costa, um dos ministros mais próximos a Lula, não integrou a comitiva que foi ao Rio. E, para evitar a associação da resposta do governo federal do discurso clássico da esquerda, as ministras Macaé Evaristo (Direitos Humanos) e Anielle Franco (Igualdade Racial) também não devem participar da reunião com Cláudio Castro, como havia sido anunciado.

