Presidente do STM pede perdão por crimes da ditadura em ato em memória de Herzog

por Assessoria de Imprensa


Em um gesto inédito na história do país, a presidente do Superior Tribunal Militar (STM), Maria Elizabeth Rocha, pediu perdão às vítimas da ditadura militar e aos familiares durante o ato inter-religioso que marcou os 50 anos do assassinato do jornalista Vladimir Herzog. O pedido, feito na noite de sexta-feira (25/10) na Catedral da Sé (São Paulo), foi dirigido aos mortos, desaparecidos, torturados e perseguidos pelo regime que vigorou entre 1964 e 1985.

“Eu peço, enfim, perdão à sociedade brasileira e à história do país pelos equívocos judiciários cometidos pela Justiça Militar Federal em detrimento da democracia e favoráveis ao regime autoritário. Recebam meu perdão, a minha dor e a minha resistência”, declarou Maria Elizabeth. O público que lotava a catedral respondeu com aplausos de pé.

Foi a primeira vez que uma autoridade máxima da Justiça Militar — instância diretamente ligada às Forças Armadas — reconheceu publicamente os abusos cometidos durante a ditadura e os erros judiciais que legitimaram a repressão. O gesto foi considerado histórico por juristas, familiares e entidades de direitos humanos presentes à cerimônia.

Relembrando o passado 

Organizado pela Comissão Arns e pelo Instituto Vladimir Herzog, o evento recriou o ato realizado em 1975, quando mais de 8 mil pessoas desafiaram a censura e a vigilância do regime para homenagear Herzog após sua morte sob tortura no DOI-CODI. A missa conduzida por Dom Paulo Evaristo Arns, o rabino Henry Sobel e o pastor Jaime Wright tornou-se um marco da resistência civil e religiosa contra a ditadura.

Cinquenta anos depois, a Catedral da Sé voltou a ser palco de união e memória. A cerimônia reuniu representantes de diversas crenças, autoridades e artistas. Estiveram presentes Dom Odilo Pedro Scherer, a reverenda Anita Wright — filha do pastor Jaime Wright — e o rabino Ruben Sternschein. O presidente em exercício, Geraldo Alckmin, participou acompanhado da esposa, Lu Alckmin.

A abertura ficou a cargo do Coro Luther King, seguida de manifestações inter-religiosas e homenagens. A atriz Fernanda Montenegro emocionou o público ao ler uma carta escrita por Zora Herzog, mãe de Vlado.

Durante o ato, o Instituto Vladimir Herzog lançou um dossiê especial com documentos, fotos e registros sobre a vida e o legado do jornalista. O material integra o acervo do instituto, dirigido por seu filho, Ivo Herzog, e voltado à promoção da educação em direitos humanos e à preservação da memória histórica.

A morte que abalou o país

Em outubro de 1975, Vladimir Herzog, então diretor de jornalismo da TV Cultura, apresentou-se voluntariamente ao DOI-CODI para prestar esclarecimentos. Horas depois, foi encontrado morto. O regime divulgou que o jornalista teria se suicidado, mas fotos e perícias posteriores comprovaram o assassinato sob tortura. A imagem de Herzog morto, amarrado a uma janela baixa, tornou-se símbolo da brutalidade estatal e mobilizou a opinião pública.

Em 1978, a Justiça Federal reconheceu oficialmente que Herzog foi preso, torturado e morto por agentes do Estado. Em 2012, o Tribunal de Justiça de São Paulo determinou a correção do atestado de óbito, retirando a falsa menção a suicídio. No início deste mês, a família recebeu o novo documento em uma cerimônia que também homenageou outras cem famílias de vítimas do regime militar.

Filho de imigrantes judeus que fugiram da perseguição nazista, Herzog nasceu em 1937, na antiga Iugoslávia, e formou-se em Filosofia pela USP. Casado com Clarice, teve dois filhos, Ivo e André. Sua trajetória, interrompida pela violência da ditadura, permanece como referência ética e simbólica da luta pela liberdade e pela verdade no Brasil.

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