O secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, anunciou nesta sexta-feira que o Pentágono está enviando o porta-aviões USS Gerald R. Ford para as águas da América do Sul, no mais recente episódio da escalada de mobilização de forças militares americanas na região. Descrito pela Marinha americana como “a plataforma de combate mais capaz, adaptável e letal do mundo”, o navio de guerra tem 337 metros de comprimento e dois reatores nucleares para propulsão e pode chegar a uma velocidade de 55 km/h.
O porta-aviões Gerald R. Ford está incluído em um agrupamento de ataque de mesmo nome, que além do navio principal inclui três contratorpedeiros (USS Mahan, USS Bainbridge e USS Winston Churchill) e esquadrões de caça F-18 e helicópteros de combate MH-60. Eles se somam a meios militares já enviados para o Caribe, incluindo outros navios contratorpedeiros, um submarino e embarcações de desembarque anfíbio, além de jatos F-35 enviados a Porto Rico.
O navio de guerra tem dois reatores nucleares para propulsão e é equipado com Sistema de Armas de Defesa Próxima (CIWS, na sigla em inglês) e mísseis de curto e médio alcance, como o Míssil Sea Sparrow Evolved o Míssil Rolling Airframe. Com 40 metros de altura e 337 metros de comprimento, o porta-aviões tem um convés de voo com 78 metros de largura que transporta 75 aeronaves e pode chegar a uma velocidade de até 55 km/h.
Construído pela Huntington Ingalls Industries Newport News Shipbuilding, o porta-aviões USS Gerald R. Ford começou a ser construído em 9 de novembro de 2009, mas só entrou no serviço ativo da Marinha em 2017. Batizado em 9 de novembro de 2013, o nome do porta-aviões é uma homenagem ao ex-presidente dos EUA Gerald Ford, já que a construção do navio foi patrocinada por Susan Ford Bales, filha do ex-presidente.
“Em apoio à diretriz do presidente para desmantelar Organizações Criminosas Transnacionais (OCT) e combater o narcoterrorismo em defesa da Pátria, o secretário de Guerra comandou o Grupo de Ataque de Porta-Aviões Gerald R. Ford e embarcou uma ala aérea de porta-aviões para a área (…) do Comando Sul dos EUA (USSOUTHCOM)”, escreveu o porta-voz do Pentágono, Sean Parnell, na rede social X. “A presença reforçada das forças americanas na Área de Responsabilidade do USSOUTHCOM reforçará a capacidade dos EUA de detectar, monitorar e desmantelar atividades e atores ilícitos que comprometam a segurança e a prosperidade do território nacional dos Estados Unidos e nossa segurança no Hemisfério Ocidental. Essas forças aprimorarão e ampliarão as capacidades existentes para desmantelar o tráfico de narcóticos e desmantelar as OCT”.
O anúncio ocorre no mesmo dia em que Hegseth confirmou o 10º ataque contra uma embarcação suspeita de transportar drogas — e um dia após Washington anunciar exercícios militares com Trinidad e Tobago, a poucos quilômetros do litoral da Venezuela.
Ao todo, as Forças Armadas dos EUA já enviaram cerca de 10 mil soldados para o Caribe, metade deles em oito navios de guerra e a outra metade estacionados em Porto Rico. O porta-voz do Pentágono não informou quando o grupo de ataque seria enviado para a região, e nem qual seria sua localização.
A confirmação do envio ocorre em um aumento de particular tensão na região. Um novo bombardeio americano na noite de quinta-feira afundou o 10º barco supostamente ligado ao narcotráfico, elevando o número de mortos nessas operações para 43, horas após o presidente Donald Trump afirmar na Casa Branca que pretendia autorizar operações terrestres contra grupos ligados ao tráfico internacional de drogas — que ele equiparou a organizações terroristas nos primeiros dias de mandato. Colômbia e Venezuela recentemente tacharam as declarações e ordens de Trump na região de ameaças de invasão.
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“Se você é um narcoterrorista contrabandeando drogas em nosso Hemisfério, nós o trataremos como tratamos a al-Qaeda. Dia ou noite, mapearemos suas redes, rastrearemos seus homens, caçaremos você e o mataremos”, escreveu Hegseth em uma publicação nesta sexta-feira, após confirmar o afundamento de uma embarcação que pertenceria ao grupo venezuelano Tren de Aragua (TdA)
Em outro desdobramento militar na quinta-feira, os EUA anunciaram exercícios militares com Trinidad e Tobago, país caribenho separado da Venezuela apenas pelo Golfo de Paria, um braço de mar de pouco mais de 10 quilômetros de largura. O contratorpedeiro USS Gravely deve aportar em Porto Espanha no domingo, e permanecer em atividades até o dia 30 de outubro.
Com 9,2 mil toneladas, 155 metros de comprimento e 20 metros de largura, o contratorpedeiro pode abrigar cerca de 300 oficiais, além de contar com dois hangares para helicópteros MH-60 Seahawk, e conta com um complexo conjunto de sensores, radares, softwares e lançadores automáticos de mísseis que permite detectar e neutralizar ameaças simultaneamente por ar, mar e subsuperfície. A embarcação também está equipada com mísseis Tomahawk, para ataques em longa distância.
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Em oposição direta ao governo de Nicolás Maduro, a Casa Branca vem alimentando uma retórica hostil, inclusive apontando o líder chavista como chefe do Cartel de los Soles e oferecendo uma recompensa por informações que levem a sua captura. Em uma entrevista coletiva recente, Trump confirmou que autorizou a CIA a realizar operações secretas no país.
Em meio às tensões, a Venezuela compara as ações americanas a um cerco. Os militares do país estão em alerta desde agosto, quando a escalada na região começou, e o governo lançou uma ampla campanha para recrutar reservistas. Apenas na quinta-feira, quando Trump voltou a falar sobre agir em terra, as tropas realizaram 73 exercícios militares em posições costeiras.
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Maduro tem transitado entre acenos de conciliação e declarações belicosas em face das ações dos EUA. Em um ato com sindicalistas pró-governo na quinta-feira, o líder chavista fez um apelo pela redução das tensões, falando em inglês:
— Peace, yes peace, forever, peace forever, No crazy war! [Paz, sim paz, para sempre, paz para sempre. Sem guerra louca] — disse Maduro, antes de retomar o discurso em espanhol.
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Apesar disso, Maduro também mencionou as capacidades militares de Caracas e citou como aliados a China e a Rússia, antagonistas dos EUA na disputa por hegemonia geopolítica. Na quarta-feira, o presidente já tinha dito que as Forças Armadas venezuelanas tinham 5 mil mísseis antiaéreos de fabricação russa em ponto de uso, caso alguma ameaça se consolidasse.
— Graças ao presidente [russo, Vladimir] Putin, graças à Rússia, graças à China e a muitos amigos no mundo, a Venezuela conta com equipamentos para garantir a paz — disse Maduro, desta vez sem se referir a um armamento em particular.

