O juiz federal Eduardo Appio, que já esteve à frente dos processos da Lava-Jato em Curitiba em 2023, será alvo de um procedimento investigatório e disciplinar instaurado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).
A coluna apurou que a corte recebeu, nesta semana, um comunicado da Polícia Civil de Santa Catarina informando que Appio é alvo de um boletim de ocorrências por suposto furto de duas garrafas de champanhe, em um supermercado. Cada garrafa custa R$ 540, conforme o boletim de ocorrência registrado na cidade de Blumenau (SC), onde a denúncia foi feita.
Procurado pela coluna, Appio disse que não sabia de nada e que o caso “deve ser um boato infundado”. O magistrado afirmou que tomará “providências legais contra qualquer tipo de boato com motivação política” e classificou o tema como “fake news política”, declarando que é “objeto de perseguição” e já está “acostumado”.
Posteriormente, apagou as mensagens e deixou apenas o texto afirmando que “não autorizava escrever nada” em seu nome.
A informação sobre a abertura do procedimento envolvendo Appio foi confirmada à coluna por duas fontes ligadas ao tribunal. Elas afirmam que há registro de imagens do furto. O ofício encaminhado pela Polícia foi enviado à Corregedoria do TRF-4, que vai instaurar o procedimento para apurar os fatos. Integrantes da corte apontam a possibilidade de o juiz ser afastado cautelarmente de suas funções enquanto as apurações ocorrem, embora ainda não haja deliberação sobre o tema.
A coluna teve acesso ao boletim de ocorrência feito com base no relato de um funcionário da área de segurança do mercado. O funcionário afirma que, em duas ocasiões diferentes, o local foi “vítima de furto de duas garrafas de bebida alcoólica (Champanhe Moët), sendo uma em cada data”.
As descrições físicas do autor não coincidem com a aparência de Appio, mas o documento aponta que o carro utilizado pela pessoa que executou o furto ao deixar o supermercado tem o juiz como proprietário.
Procurada, a assessoria de imprensa do TRF-4 informou que os procedimentos de investigações sobre magistrados são sigilosos. O tribunal acrescentou que “todos os procedimentos cabíveis serão adotados, como ocorre em qualquer caso envolvendo um magistrado”.
Essa não é a primeira polêmica envolvendo Appio. Em 2023, o mesmo TRF-4 o afastou da 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pelos processos da Lava-Jato. Na ocasião, a Corte entendeu que Appio teve relação com um telefonema anônimo com ameaças ao filho do desembargador do TRF-4 Marcello Malucelli, após este tomar uma decisão que restabelecia, na prática, a prisão do operador financeiro Tacla Duran. O filho do desembargador João Eduardo Malucelli é sócio do ex-juiz Sergio Moro e de sua esposa, Rosângela Moro, em um escritório de advocacia em Curitiba.
O caso levou à transferência definitiva de Appio da Vara responsável pela Lava-Jato, após uma audiência de conciliação no Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Na ocasião, Appio reconheceu ter tido uma conduta imprópria, sem especificar qual foi. O processo foi aquivado.

