Humanos e grandes símios compartilham um ancestral comum, mas seguiram caminhos distintos ao longo de milhões de anos. Essa relação, marcada por semelhanças anatômicas e genéticas, foi revisitada em um estudo que indica uma transformação mais acelerada do crânio humano quando comparada à de outros primatas. A pesquisa, realizada por cientistas da University College London (UCL), no Reino Unido, analisou digitalmente crânios de diversas espécies de macacos.
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Segundo o trabalho, publicado em setembro na revista Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences, a diversificação anatômica humana ocorreu pelo menos duas vezes mais rápido que a observada nas demais espécies avaliadas. A primatologista espanhola Aida Gomez-Robles, principal autora, afirmou que “de todas as espécies de macacos, os humanos evoluíram mais rapidamente”, destacando que adaptações cranianas ligadas a cérebros maiores e rostos menores parecem ter sido decisivas nesse processo.
A equipe utilizou modelos virtuais tridimensionais de crânios de sete hominídeos — como humanos, chimpanzés e gorilas — e de nove espécies de hilobatídeos, os chamados “macacos menores”, incluindo os gibões. Esses animais divergiram evolutivamente há cerca de 20 milhões de anos. As comparações mostraram que, enquanto os hominídeos apresentam grande variedade morfológica, os hilobatídeos mantêm crânios muito semelhantes entre si, sugerindo uma evolução mais lenta e com baixa diversidade anatômica.
Para mensurar as diferenças, os pesquisadores dividiram os crânios em quatro regiões — duas seções da face e duas da cabeça — e realizaram uma análise computacional detalhada. Os dados indicam que fatores além da inteligência podem ter impulsionado essas mudanças. “Aspectos sociais provavelmente também influenciaram nossa evolução”, observou Gomez-Robles. Entre os grandes símios não humanos, os gorilas apresentam a segunda maior taxa de evolução craniana, atribuída possivelmente à seleção ligada ao status social.
Os cientistas lembram, porém, que a pesquisa avaliou apenas espécies modernas de primatas. Sem a inclusão de fósseis, ainda não é possível determinar com precisão as etapas intermediárias da evolução craniana humana. Para aprofundar essa compreensão, os autores propõem que trabalhos futuros considerem evidências do passado e explorem também outros elementos do esqueleto, assim como sua relação com a genética.
Ao revelar que nossa morfologia craniana se distanciou rapidamente dos demais macacos, o estudo reforça a complexidade da história evolutiva humana — moldada não apenas pelo crescimento do cérebro, mas pelas interações sociais que, ao longo do tempo, ajudaram a definir quem somos.

