‘RH do PCC’ discutiu financiamento de passeata e monitorava briga da cúpula na prisão, aponta investigação

por Assessoria de Imprensa


Mensagens interceptadas em investigações sobre o Primeiro Comando da Capital (PCC) revelam que a facção discutiu o financiamento de uma passeata em Brasília, cobrava o desempenho na venda de drogas e se mantinha informada sobre a briga entre os chefões presos em penitenciárias federais.

O dia a dia da “Sintonia Final do Resumo”, nome pelo qual é conhecido internamente o “setor do RH” da facção, foi desvendado pela Polícia Civil de São Paulo a partir do conteúdo extraído dos celulares do traficante Michael Silva, o “Neymar do PCC”, responsável pelo departamento. Em outro inquérito paralelo, os investigadores monitoraram por meio de um grupo de WhatsApp chamado “Só Tapa” a rotina na venda de drogas nas “lojas”, como são chamadas as bocas de fumo.

Segundo o inquérito, o “Neymar do PCC” pediu a um contato “ajuda financeira” para cobrir os gastos de uma passeata em Brasília que “reivindicaria os direitos dos presos”. O ato, de fato, aconteceu na Esplanada dos Ministérios, no fim de abril de 2024.

Mensagem mostra pedido para financiar passeata — Foto: Reprodução
Mensagem mostra pedido para financiar passeata — Foto: Reprodução

“Amigo, sabe que eu ia te falar em cima do que meu padrinho te falou e eu também: de você e os amigos darem uma ajuda em cima da passeata que vai ter agora dia 28. Vai sair os ônibus para Brasília. Queria ver se você e os ‘truta’ vão ajudar mesmo, que temos que pagar os ônibus e comprar um lanche”, diz a mensagem. O interlocutor respondeu que iria ajudar com R$ 3 mil.

“A utilização de recursos financeiros da facção para financiar atividades como a passeata em defesa dos presos reforça a mobilização do grupo para promover suas causas e ampliar sua influência”, concluíram os investigadores.

Procurada, a defesa diz que ele é inocente e que a investigação é “desastrosa” e acumula “diversas nulidades, que serão arguidas em momento oportuno”.

Dois meses antes, Michael Silva recebeu informações sobre a briga interna que estava acontecendo na cúpula do PCC, detida em presídios federais. Ele foi avisado que “Abel, Tiriça e Wandinho” seriam expulsos da facção por “traição”. Os três — Abel Pacheco, Roberto Soriano e Wanderson de Paula Lima — teriam se rebelado e pedido a expulsão de Marcos Herbas Camacho, o Marcola, considerado o líder número 1 da facção. Isso levou o trio a ser “decretado” (jurado de morte), conforme as investigações.

“Os amigos vão excluir o Abel e o Tiriça e o Wandinho. Traição”, diz a mensagem enviada ao Neymar do PCC, em fevereiro de 2024. Naquela época, a rixa silenciosa era tratada nos bastidores das unidades prisionais.

Conforme a Polícia Civil, a “Sintonia Final do Resumo” era responsável por passar orientações sobre posicionamentos eleitorais, definir regras para o mercado de drogas, planejar expansão territorial a outros estados, financiar o custo das “filiais” e aplicar sanções contra quem violava o Estatuto da facção. Em um vídeo obtido pelos investigadores, um traficante é executado após ter desafiado integrantes da facção numa boate e gritado ser “contra o primeiro”, em referência ao PCC.

‘Não fica me acelerando’

Em outra investigação que mirou no varejo de drogas em São Paulo, os investigadores se depararam com traficantes que atuavam como “fiscais” e “auditores” dos pontos de venda de droga.

“Tá tendo recolhe? Como é que tá aí? Deu uma brecada no recolhe, tá acontecendo alguma coisa?”, cobra o responsável pela boca de fumo em uma mensagem enviada em abril de 2025. Em outra conversa, ele reclama que não havia sido feito nenhum “recolhe” pela manhã.

O “recolhe” se referia ao dinheiro que costuma ser apanhado diversas vezes por dia nas bocas de fumo. O objetivo é evitar apreensões de dinheiro por parte da polícia.

Diante da cobrança, alguns traficantes se queixavam da pressão . “Já falei para você lá na toca, tá metendo o louco. Não fica me acelerando, não”, diz o criminoso que desempenha a função de “abastecedor” de drogas.

Esses traficantes foram alvos de mandados de prisão em uma operação deflagrada nesta semana chamada “Auditoria”. O “Neymar do PCC”, por sua vez, foi preso em agosto de 2024. Na ocasião, os agentes apreenderam um carro, joias, uma balança de precisão e os “celulares sujos”, como ele mesmo costuma chamar os aparelhos registrados no nome de terceiros e usados para discutir o dia a dia do crime. Um mês antes da prisão, ele enviou uma mensagem a um subordinado mandando que ele destruísse três telefones e os lançasse no Rio Tietê.



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