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O que seria um bom resultado? Conquistar pelo menos um terço da Câmara e, com isso, ter o chamado escudo legislativo para blindar Milei de eventuais ofensivas opositoras. Mas, nos últimos dias, em Buenos Aires predomina a percepção de que esse resultado não seria suficiente para acalmar as tensões nos mercados que, na avaliação dos analistas ouvidos pela coluna, perderam a confiança no presidente.
Três coisas preocupam: um eventual calote da dívida pública, uma forte desvalorização do peso e uma nova recessão. A incapacidade de Milei para articular politicamente já ficou demonstrada. Na economia, os resultados obtidos já não convencem. O presidente reduziu a inflação e equilibrou as contas, mas hoje essas conquistas estão em risco.
Sem um socorro de Donald Trump, que condicionou a ajuda ao resultado eleitoral, Milei entrará numa zona perigosa. E é pensando nesse cenário que analistas já falam numa “saída institucional” do presidente.
Como seria? Após o dia 10 de dezembro, quando assumirá o novo Parlamento e Milei completará dois anos de mandato, poderiam surgir pressões para a renúncia do presidente. Depois de dois anos de governo, um eventual sucessor escolhido pelo Congresso completaria o mandato e não seria necessário convocar novas eleições. Pode parecer ficção científica, mas é o que está sendo discutido em Buenos Aires.
Em Caracas, o assédio militar dos EUA causa confusão. O governo Lula, confirmaram fontes oficiais, observa cada movimento no país com apreensão. Essa apreensão também existe no mundo militar. O envio de 10 mil militares e 435 toneladas de armamentos para a realização da Operação Atlas este ano em Roraima e Amapá, que fazem fronteira com a Venezuela e a Guiana, representa um dos maiores deslocamentos militares da História do país.
O exercício termina dia 9 de outubro, e a dimensão da operação mostra a preocupação dos militares brasileiros com o envio de tropas americanas ao Caribe. Em seu discurso na ONU, o presidente Lula voltou a defender o diálogo na Venezuela. Ele tem falado pouco sobre o país, e não é coincidência que o tenha feito agora.
A área de Defesa é, nos últimos tempos, a que mais tem dado atenção à Venezuela. O fato de Lula não ter reconhecido a questionada reeleição de Maduro, em 2024, não impede que a cooperação militar continue, de forma discreta.
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Perguntado sobre qual é o recado que a operação busca dar, o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Pedro Silva Barros, que morou em Caracas e foi diretor da União de Nações Sul-americanas (Unasul), reiterou algo que escreveu em 2022: “[A] nova realidade (ampliação da exploração de petróleo na Guiana) reforça a necessidade de incrementar a presença brasileira no país, sobretudo no acompanhamento dos desdobramentos do contencioso de Essequibo e na dissuasão da participação de atores externos em uma eventual escalada do conflito.”
Que atores? Principalmente Estados Unidos, Rússia e China, nessa ordem. Com a presença militar americana no Caribe, a preocupação dos militares brasileiros aumentou.