A Amazon fez um anúncio na noite de terça-feira que está sendo classificado por analistas do Itaú BBA como “uma de suas manobras mais agressivas” até hoje na disputa com Mercado Livre e Shopee no Brasil. A companhia de Jeff Bezos decidiu isentar todas as taxas logísticas cobradas dos vendedores que usam o modelo fulfillment, no qual a própria Amazon se responsabiliza pela estocagem e entrega dos produtos de terceiros.
O movimento ataca uma das principais fragilidades da empresa em relação às rivais no Brasil — a menor quantidade de vendedores e o sortimento mais limitado de produtos — e faz parte do plano da Amazon de investir, segundo interlocutores ouvidos pelo Itaú BBA, US$ 25 bilhões no e-commerce brasileiro em um período de três a cinco anos.
“A Amazon vem recrutando de forma agressiva gerentes de relacionamento de concorrentes, com o objetivo específico de reduzir essa diferença na seleção. O anúncio de ontem foi desenhado exatamente com esse propósito: criar um poderoso incentivo para que os vendedores aloquem seus estoques nos centros de distribuição da Amazon”, detalhou o relatório do banco.
Embora a isenção expire em 3 de dezembro, podendo ser estendida por mais dois meses caso o vendedor concorde em gastar mais com publicidade na plataforma e aumentar o volume de produtos no modelo de fulfillment, o Itaú BBA classificou o anúncio como “um sinal claro da agressividade da Amazon e de maior pressão sobre as margens no curto prazo”.
“Há apenas alguns meses, a Amazon já havia reduzido as tarifas logísticas para vendedores; o anúncio de ontem leva essa política ainda mais longe”, acrescentou.
A Amazon está, de certa forma, correndo atrás do prejuízo diante de um Mercado Livre que se tornou três vezes maior que a operação da rival americana no Brasil e construiu uma infraestrutura logística superior. Mas o banco observou que, como a penetração do e-commerce no Brasil parece ter estacionado entre 14% e 15%, ainda há espaço competitivo — mesmo que isso signifique provável aperto de margens daqui para frente.
“O catalisador decisivo por trás do novo ímpeto da Amazon no país foi a conquista do breaking even (equilíbrio financeiro, ou seja, deixar de dar prejuízo), mesmo em uma escala relativamente menor. Com esse marco alcançado, o mandato mudou claramente: a rentabilidade pode ser deixada de lado no curto prazo em favor da conquista de participação de mercado”, completou o BBA, acrescentando: “É improvável que a Amazon recue, e acreditamos que o Mercado Livre também não cederá facilmente. Na verdade, o Mercado Livre pode muito bem espelhar as medidas anunciadas ontem, sacrificando margens de curto prazo para defender — e consolidar — sua liderança.”