Um quarto de século depois de dispensar José Mourinho, o Benfica parece ter finalmente convencido o “Special One” a voltar — apostando que a magia que iluminou o Porto e deslumbrou a Europa agora pode ser invocada em vermelho lisboeta.
Poucos se lembram que antes de ser aclamado pelo Porto, o primeiro batismo de Mourinho como treinador aconteceu no Benfica, em 2000, em uma tumultuada passagem de três meses que terminou com a torcida gritando seu nome enquanto ele se afastava.
Agora, aos 62 anos, o filho pródigo está prestes a regressar a Lisboa, noticiou a emissora portuguesa RTP nesta quarta-feira (17), em meio aos destroços de um colapso em casa por 3 a 2 contra o Qarabag, do Azerbaijão.
Ironicamente, o Benfica eliminou o antigo empregador de Mourinho, o Fenerbahçe, da Europa, pouco mais de duas semanas antes de os turcos o despedirem.
Os feitos de Mourinho são bem conhecidos.
O português, que nasceu na cidade costeira de Setúbal, a meia hora de carro de Lisboa, é amplamente considerado um dos melhores treinadores da sua geração.
Conquistou títulos de liga em quatro países e é um dos seis treinadores a erguer a taça da Champions League com dois clubes, além de ser o único treinador a vencer as três atuais competições de clubes da Uefa.
A breve passagem de Mourinho após ser nomeado treinador do Benfica em 2000 foi nada menos que dramática, mas também foi crucial, pois começou a construir um nome e um legado que manteve os torcedores do clube sonhando com o que poderia ter sido durante mais de duas décadas.
Contratado em setembro daquele ano para substituir Jupp Heynckes após um início de temporada desastroso, com duas vitórias em cinco jogos sob o comando do alemão, Mourinho chegou a um clube em turbulência política, com eleições presidenciais iminentes e um vestiário dividido.
Trabalhando ao lado do assistente Carlos Mozer, um ex-grande defensor do Benfica e do Brasil, Mourinho conseguiu bloquear o ruído externo dos seus jogadores e transformou o elenco em dificuldades, culminando numa impressionante vitória por 3 a 0 sobre o rival local Sporting, deixando a torcida em êxtase.
Mas a lua de mel foi curta. Apesar de um registro de seis vitórias, três empates e duas derrotas em 11 jogos, Mourinho partiu apenas dois dias após esse triunfo devido a desentendimentos com o recém-eleito presidente Manuel Vilarinho.
“É um dia muito triste para nós, o dia em que terminamos a nossa relação contratual com o Benfica”, anunciou Mourinho em 5 de dezembro de 2000, numa sala de imprensa cheia de torcedores gritando seu nome.
“[Antes de Mourinho] O Benfica jogava terrivelmente… Tínhamos um time péssimo; até eu poderia ter jogado, ou pelo menos sido um suplente regular”, disse Vilarinho aos jornalistas.
“E o senhor Mourinho, que é um excelente treinador e líder, quase um feiticeiro, consegue mudar essas mentalidades.”
“Mourinho venceu o Sporting por 3 a 0… E hoje é sábado. Na segunda-feira, temos uma reunião de direção e Mourinho diz isto: ‘Ou renovam o meu contrato por mais um ano ou amanhã não serei mais treinador’.
“E ele saiu… Acho que ele nunca gostou de mim, não sei porquê, deve ter pensado que eu não gostava dele”, acrescentou Vilarinho, tentando explicar como o Benfica permitiu que Mourinho saísse.
Mourinho foi treinar o modesto União de Leiria por uma temporada antes de se juntar ao Porto e levar o clube do norte de Portugal a um sucesso sem precedentes, conquistando títulos consecutivos da liga, uma taça de Portugal, a Copa da Uefa em 2003 e a Champions em 2004.
Após duas décadas de uma carreira de altos e baixos no Chelsea, Inter de Milão —onde também venceu a Champions—, Real Madrid, Manchester United, Tottenham, Roma e Fenerbahçe, ele está voltando para casa para terminar um trabalho que está 25 anos atrasado.
