Maior bioma do Brasil, a Amazônia abrange nove estados e ocupa 49,5% do país, em uma área de 421 milhões de hectares. As agressões contra esse patrimônio também são gigantescas. Segundo o levantamento anual feito pela MapBiomas, entre 1985 e 2024, 52 milhões de hectares de vegetação nativa foram destruídos — o equivalente a 13% de sua área, comparável ao tamanho da Espanha. Feita a partir de imagens de satélite, a análise mostra que, em 2024, 81,9% do bioma está coberto por vegetação original e 15,3%, ocupado por uso antrópico (qualquer alteração do ambiente original causada pela atividade humana).
De acordo com o estudo, os estados com a menor proporção da vegetação nativa são Rondônia (60%), Mato Grosso (62%), Tocantins (65%) e Maranhão (67%). Já os estados com a maior proporção são Amapá (95%), Roraima (94%), Amazonas (93%) e Acre (85%).
Para os integrantes do Mapbiomas, a situação é alarmante. “A Amazônia brasileira está se aproximando da faixa de 20% a 25% prevista pela ciência como o possível ponto de não retorno do bioma, a partir do qual a floresta não consegue mais se sustentar”, diz o responsável pela equipe Amazônia, Bruno Ferreira. “Já podemos perceber impactos dessa perda de cobertura florestal”, completa.
Agropecuária
Segundo o levantamento, a agropecuária na Amazônia cresceu 415% em quatro décadas. A pastagem, principal destino do desmatamento, representa mais de 90% do recuo de vegetação nativa nos últimos anos. Além disso, a pastagem aumentou em 355% entre 1985 e 2024, passando de 12,3 milhões de hectares para 56,1 milhões.
A agricultura, por sua vez, expandiu de 180 mil hectares em 1985, para 7,9 milhões de hectares em 2024, um aumento de 4.321%. De acordo com o relatório, três de cada 4 hectares (74,4%) são ocupados por lavouras de soja, ocupando 5,9 milhões de hectares em 2024. A maior parte dessa área (4,3 milhões de hectares) foi convertida após 2008, data de assinatura da moratória da soja.
Porém, de 2008 para 2024, a conversão direta de formação florestal para soja caiu 68% (769 mil hectares). Após 2008, a soja cresceu principalmente em áreas já abertas de pastagem (+2,8 milhões de hectares, ou +1047%) e de agricultura (+1 milhão de hectares / +2708%).
Em termos percentuais, a atividade com a expansão mais expressiva foi da silvicultura — técnica de cultivar florestas, com práticas sustentáveis. Essas ações passaram de 3,2 mil hectares em 1985 para 352 mil hectares em 2024, um crescimento de 11.000%.
A mineração também aumentou na Amazônia, segundo o MapBiomas. Cresceu de 26 mil hectares (1985) para 444 mil hectares (2024), apresentando um alta de 1.707%. A mineração se expandiu, em média, 10 mil hectares por ano ao longo de quatro décadas, sendo 50% da mineração acumulada na última década.
Políticas ambientais
Para o ambientalista e especialista em negócios climáticos e economia verde, Pedro Plastino, as políticas ambientais atuais apresentam falhas. “Uma das principais falhas é acreditar que apenas criar territórios protegidos seria suficiente para conter o desmatamento. Falta uma estratégia mais robusta de uso sustentável do solo e das florestas, que ative de fato as cadeias da bioeconomia.”, destaca.
Plastino considera urgente acelerar medidas que combinem conservação e geração de renda. “Ampliar concessões sustentáveis (buscam equilibrar o desenvolvimento econômico com a preservação do meio ambiente e o bem-estar social), incentivar cadeias produtivas locais ligadas à bioeconomia e estruturar de vez o mercado de carbono no país. Só assim conseguiremos transformar as florestas em pé em ativos produtivos e, ao mesmo tempo, frear o avanço do desmatamento”, ele cita.
Em relação ao agro, Plastino acredita que a forma mais eficaz de governo e setor agropecuário promoverem um modelo de produção mais sustentável passa por estimular a produtividade sem abrir novas áreas. “O governo pode ampliar o crédito subsidiado para a agricultura de baixo carbono, que aumenta a eficiência e reduz emissões, além de fortalecer a fiscalização dos territórios”, exemplifica
“Ao mesmo tempo, é essencial envolver o setor privado na proteção e no uso sustentável das florestas, criando valor para mantê-las em pé. Só assim conseguimos quebrar o ciclo do desmatamento e oferecer um modelo viável e sustentável para os produtores”, afirma o ambientalista.
* Estagiário sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza