Em 2022, o Santa Monica Tennis Center, no sul da Califórnia, tinha uma única quadra de tênis. Hoje, essa quadra não existe mais.
Em seu lugar estão quatro quadras de pickleball, anexadas ao que agora se chama Santa Monica Pickleball Center.
Em 2019, o Parque Sawyer Point de Cincinnati tinha oito quadras de tênis desgastadas.
Hoje, o parque tem 24 quadras de pickleball, seis das quais desenhadas sobre as três quadras de tênis que restam.
As quadras de tênis perdidas no centro de pickleball de Santa Monica e no Parque Sawyer Point estão longe de serem as únicas.
Elas estão entre as milhares de quadras de tênis identificadas pelo The New York Times que cederam espaço para —ou agora compartilham espaço com o pickleball.
Ao analisar quase 100 mil fotografias aéreas, conseguimos identificar mais de 26 mil quadras de pickleball ao ar livre construídas nos últimos sete anos —a maioria delas às custas de espaços que antes eram exclusivos para tênis e criadas desde o início da pandemia, em 2020. No total, encontramos mais de 8.000 quadras de tênis que foram transformadas para a prática de pickleball.
Em 2024, 14 quadras de pickleball estavam sendo construídas ou desenhadas por dia, em média, em todo o país.
Nossa análise não é abrangente: segundo estimativas de associações comerciais, existem mais de 270 mil quadras de tênis —e agora 68 mil quadras de pickleball— nos Estados Unidos, incluindo quadras cobertas que não conseguimos rastrear. Mas as fotografias oferecem uma visão panorâmica e abrangente do que vem acontecendo em todos os cantos do país: há apenas uma quantidade limitada de asfalto disponível, e o pickleball não consegue ter o suficiente.
O máximo de quadras possível
Jon Neeter, proprietário do Santa Monica Pickleball Center, disse que seu antigo negócio de tênis estava indo muito bem para uma única quadra com uma loja especializada. Jogador e treinador de tênis por toda a vida, ele queria que sua loja fosse um segundo lar para clientes regulares. “Essa foi uma das coisas que tornou realmente difícil dar esse mergulho e apostar tudo” no pickleball, disse ele.
Em 2024, apenas um ano após a conversão para pickleball, Neeter disse que o negócio estava gerando sete vezes mais receita do que jamais gerou como uma loja exclusivamente de tênis.
Uma explicação é a geometria básica. Usando a mesma área, Neeter agora pode receber quatro vezes mais pessoas, em quatro vezes mais aulas e eventos. Ele pode programar diferentes atividades simultaneamente, como um acampamento infantil em uma quadra e um treino competitivo em outra, ou aulas em dois níveis diferentes de habilidade.
“Quando eu tinha uma única quadra, se tivesse uma pessoa em uma aula que não se encaixava, não podia transferi-la para outra quadra, onde talvez todos se sentissem mais confortáveis”, disse ele. Agora, ele também está organizando eventos corporativos para grandes empresas e viu um grande aumento nas vendas no varejo.
As conversões também têm sido bem-sucedidas em muitos espaços públicos. No Sawyer Point Park, mais de 150 pessoas por dia jogam pickleball durante as sessões em grupo. E o enxame de visitantes tem impulsionado mais melhorias em todo o parque, incluindo em uma pista de patinação no gelo e um anfiteatro vizinhos.
Alex Mouton, coordenadora de instalações e instrutora-chefe no Complexo de Pickleball Cayce, na Carolina do Sul, disse que “a quantidade de tráfego de entrada e saída” mudou a área para melhor desde a conversão de quatro quadras de tênis em 16 quadras de pickleball azul-brilhante. O complexo sediou cinco torneios amadores e profissionais desde a abertura das novas quadras em março, gerando receita para hotéis e empresas locais, disse ela.
No entanto, nem toda nova quadra de pickleball surge das cinzas de uma quadra de tênis. Muitas, como seis das 24 em Sawyer Point, são quadras híbridas, onde os contornos menores do pickleball se sobrepõem às bordas maiores do tênis.
A USTA (Associação de Tênis dos Estados Unidos), como era de se esperar, quer evitar perder espaço de quadra para o pickleball.
Ted Loehrke, diretor administrativo de parcerias, disse que a USTA depende de relacionamentos em suas 17 regiões para impulsionar o esporte localmente. Ela monitora aspectos como pautas de reuniões municipais em busca de menções a tênis e pickleball, e então garante que “alguém esteja lá para falar em nome do tênis”.
As tensões entre tênis e pickleball diminuíram no último ano, disse Loehrke, à medida que quadras exclusivas de pickleball se tornaram mais populares. De fato, nossa análise descobriu que o número de novas quadras de pickleball criadas sobre quadras de tênis diminuiu pela primeira vez no ano passado, mesmo enquanto o número de quadras independentes —e quadras de pickleball em geral— continuou a aumentar.
Essas novas quadras são frequentemente construídas em terrenos próximos a instalações de tênis, como campos abertos de grama ou terra, ou estacionamentos.
“Existe um vício nisso”
Quando perguntado se há risco de se arrepender por mudar seu negócio de tênis para pickleball, Neeter disse que havia “zero por cento de chance” de que seja uma moda temporária. Está se entrelaçando “no tecido da vida das pessoas”, disse ele. “São seus círculos sociais. É como tudo. Existe um vício nisso.”
Gary Lessis, morador de Cincinnati e voluntário que pressionou a cidade para substituir as quadras de tênis do Sawyer Point Park, disse: “Quando começamos, em 2020, eram principalmente pessoas de 70 anos” jogando pickleball. Hoje, disse ele, o segmento que mais cresce é o de jogadores de 20 a 35 anos.
Os números do censo confirmam isso até certo ponto. Nas áreas onde nossa análise mostra novas quadras de pickleball ao longo do tempo, há uma tendência clara: os bairros com novas quadras estão ficando mais jovens, menos suburbanos e menos ricos.
Kim Mills, diretora associada da Bainbridge Family YMCA, no sudoeste da Geórgia, disse que sua pequena cidade costumava ter uma pista de boliche e um cinema, ambos fechados atualmente.
Após as conversões das quadras de pickleball da YMCA, ela disse: “as pessoas imediatamente começaram a vir e jogar —especialmente os jovens”. Ela disse que o esporte é mais social que o tênis. “Você pode ouvi-los rindo e conversando.”
As antigas quadras de tênis, disse ela, haviam caído em desuso. Lessis disse o mesmo sobre o Sawyer Point Park. Em muitas das fotografias aéreas, é possível ver rachaduras marcando as quadras.
Nada disso significa que o tênis seja um esporte em extinção. De acordo com pesquisas da USTA, a participação no esporte teve um impulso desde a pandemia, embora não tão propulsivo quanto o do pickleball. Mas mesmo os fanáticos por tênis reconhecem que há mais que o esporte pode fazer para ser acolhedor.
“Se os jogadores de tênis não estão usando as quadras, então não têm ninguém para culpar além de si mesmos”, disse Tanner DeVarennes, diretor de operações do Hartford Tennis Club, em Connecticut. O clube não tem intenção de converter nenhuma de suas 12 quadras de saibro verde para pickleball.
